terça-feira, 12 de maio de 2020

PORTUGAL E SUAS CASTAS "MUTANTES"

Antes de começar a escrever um pouco sobre as castas "mutantes" de Portugal, e quando escrevo "mutantes" não me refiro ao fato que as uvas durante a noite se transformam em pequenos seres alienígenas, mas sim a questão de cada casta mudar de nome dependendo a região de Portugal onde é plantada, devo admitir que a Lusitânia (nome utilizado para indicar o Portugal na antiguidade) foi um dos últimos países que estudei durante minha trajetória enológica, um pouco pelo fato de nunca ter tido muita proximidade pessoal com este país, e também pelo nó que dava na minha cabeça todas as vezes que bebia um vinho português, quando lia o contra rótulo, ao me deparar com, no mínimo, 6 uvas utilizadas para produzi-lo. Encarei isso como um desafio pessoal e me comprometi a aprofundar mais meus conhecimentos sobre a vitivinicultora portuguesa, e, a partir desta minha confusão inicial, decidi escrever este artigo pois acho que muita gente também fica um pouco perdida quanto as principais uvas de Portugal e seus diferentes nomes.
Examinando os principais países produtores de vinhos europeus Portugal é um dos menores seja em termos de superfície plantada que de produção, respectivamente 200.000 ha. e 6 milhões de hl/ano (mais ou menos 1/5 da produção da vizinha Espanha) e historicamente o pulo de gato da enologia portuguesa se deu com os vinhos fortificados do Porto e Madeira que, pelo fato de terem um alto teor de açúcar e de álcool resistiam muito bem as travessias marítimas para chegar ao principal mercado de exportação de Portugal, a Inglaterra. A produção de vinhos portugueses (como todos os outros países da Europa) teve grandes problemas durante a filoxera mas enquanto o resto da Europa conseguiu se reerguer, Portugal sofreu muito o isolamento político que viveu até meado de 1970 e que não permitiu que fossem implementadas politicas de melhoria nos vinhedos para aumentar a qualidade dos produtos e ao mesmo tempo investimentos institucionais para que os vinhos tintos e brancos fossem conhecidos fora de Portugal. Foi somente após a entrada do Portugal na Comunidade Europeia (1986) que o setor vinícola do país começou a se reestruturar e os produtores, visando os mercados externos, foram obrigados a implementar melhorias substancias seja nos vinhedos que nas cantinas para a melhoria da qualidade dos produtos.
Hoje as principais regiões vinícolas de Portugal são Minho, Douro, Bairrada, Dão, Ribatejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve, além, obviamente, da Ilha de Madeira.
Falando um pouco mais sobre as castas, Portugal é um país com um número impressionante de castas autóctones (mais de 100) de origem muito antiga (fenícios e cartaginenses) e somente na região do Douro, a pátria do vinho do Porto, podemos encontrar quase 80 destas uvas, mas com pouca presença de uvas internacionais que não se adaptaram muito bem as condições climáticas e de terreno. Dentre as castas brancas mais utilizadas podemos mencionar a Alvarinho, Arinto, Bual, Encruzado, Fernão Pires, Gouveio, Loureiro, já para as tintas A Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonez, Castelão, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinta Cão, Touriga Nacional e Touriga Francesa.
Mas para voltar ao assunto da abertura sobre a "mutação" das castas portuguesas, abaixo anexo duas planilhas que evidenciam como o nome das uvas, em Portugal, muda em função da área onde é plantada. As vezes encontramos nomes bem esquisitos, mas espero que as tabelas abaixo ajudem os leitores a se orientar um pouco mais no complexo mundo das uvas "mutantes" portuguesas:

CASTAS BRANCAS
Nome Sinônimos
Alicante branco Cachudo, Branco Conceição, Pérola
Alvar Alvar branco
Alvarinho Galego, Galeguinho
Arinto Padernã, Pé de Perdiz branco, Chapeludo, Cerceal,Azal espanhol, Azal, Galego, Branco espanhol
Arinto do Interior Arinto do Douro, Arinto de Trás-os-Montes
Azal Azal, Gadelhudo, Carvalhal, Pinheira
Babosa Malvasia Babosa
Batoca Alvaroça, Alvaraça, Sedouro
Bical Borrado de Moscas, Arinto, Fernão Pires, do Galego, Pedro
Boal espinho Batalhinha
Branco João Branco Sr. João
Branda D. Branca, Dona Branca
Carrasquenho Boal Carrasquenho
Carrega branco Malvasia Polta, Barranquesa
Cerceal branco Cercial
Diagalves Formosa, Carnal
Dorinto Arinto branco
Esganoso Esganoso de lima, Esganinho, Esgana Cão Furnicoso
Estreito Macio Estreito ou Rabigato
Fernão Pires Maria Gomes
Folgasão Terrantes
Gigante Branco Gigante
Gouveio Verdelho
Lameiro Branco lameiro. Lameirinho, Luzidio
Lilás Alvarinho lilás
Malvasia Fina Boal, Boal branco,Arinto-do-Dão, Assario branco, Arinto, Galego, Boal Cachudo
Malvasia Rei Seminário, Assario, Listrão, Pérola, Moscatel Carré, Grés, Olho de Lebre
Malvasia Romana Malvasia Cândida Romana, Malvasia Cândida branca
Malvia Malvasia de Setubal
Malvoeira Malvasia de Oeiras
Manteúdo Manteúdo B., Vale Grosso, Manteúdo Branco
Moscatel Galego branco Moscatel, Moscatel de Bago Miudo
Moscatel Graúdo Moscatel de Setubal
Moscatel Nunes Moscatel Branco
Rabigato Franco Rabigato Francês
Rabo de Ovelha Medock, Rabigato, Rabo de Gato, Rabisgato, Rabo de Careneiro
Roupeiro Bramco Roupeiro
Santoal Boal deSantarém
Semillon Boal
Sercial Esgana Cão, Esganoso
Síria Roupeiro, Crato Branco, Malvasia, Posto Branco, Côdega, Alvadurão do Dão
Tália Braquinha, Douradinha, Pêra de Bode, Ugni Blanc, Esgana Rapazes, Espadeiro Branco, Malvasia Fina, Trebiano, Afrocheiro Branco
Tamarez Arinto Gordo, Boal Prior, Trincadeira de Douro
Trajadura Trincadeira, Mourisco
Trincadeira das Pratas Tamares
Uva Cão Cachorrinho
Valente Branco Valente 
Vencedor Boal Vencedor
Vedelho Verdelho Branco, Verdelho dos Açores
Vital Boal Bonifácio, Malvasia Corada
CASTAS TINTAS
Nome Sinônimos
Alcoa Tinta da Alcobaça
Afrocheiro Afrocheiro Preto
Alicante Bouschet Alicante Tinto, Tinta Fina, Tinta de Escrever, Uva Rei, Boal de Alicante, Boa!
Alvarelhão Brancelho, Brancelhao, Pirraúvo
Amaral Azal Tinto
Amostrinha Preto Martinho
Aragonez Tinta Roriz, Tinta de Santiago
Baga Tinta da Bairrada, Poerinho, Baga de Louro
Barca Tinta da Barca
Barreto Barreto de Semente
Bastardo Bastardinho
Bastardo Tinto Bastardo Espanhol
Bonvedro Monvedro Tinto, Monvedro de Sines
Borraçal Bogalhal, Carnho Grosso, Olha de Sapo, Esfarrapa, Murraçal
Bragão Tinta Bragão
Camarate Castelão, Castelão Nacional, Moreto, Moreto de Soure, Negro Mouro, Moreto
Carrega Burros Esgana Rapousas, Malbasias
Castelão Periquita, João de Castelão, Castelão Francês, 
Cidadelhe Tinta de Cidadelhe
Cornifesto Cornifesto Tinto
Engomada Tinta Engomada
Espadeiro Espadeiro Tinto, Padeiro, Cinza, Espadal
Fepiro Alentejana
Gorda Tinta Gorda
Graciosa Tinta da Graciosa
Grand Noir Sousão, Sumo Tinto
Grenache Abundante
Grossa Tita Grossa
Malandra Tinta Malandra
Malvasia Preta Moreto
Marufo Mourisco Tinto, Moroco, Uva do rei, Olho de Rei
Merla Tinta Merla
Moscargo Portalegre
Moscatel Galego Tinto Moscatel Tinto
Padeiro Padeiro de Basto
Pical Pical Polho, Pic Pul
Pilongo Turigo
Português Azul Branco Escola, Branco de Asa, Azal de São Tirso
Rabo de Anho Rabo de Ovelha
Ramisco tinto Ramisco
Ricoca Tinta Ricoca
Rodo Tinta Rodo
Roseira Tinta Roseira
Rufete Tinta Pinheira, Penamacor
Santareno Santarém
Sousão Sousão Forte, Sousão de Comer, Sousão Vermelho
Tinta Caiada Monvedro
Tinta Negra Negra Mole
Tinta Penajóia Tinta Roriz de Penajóia
Tinta Pomar Tinta Mole
Tinto Cão Padeiro, Tinto Mata
Touriga Fêmea Touriga Brasileira
Touriga Franca Touriga Francesa
Touriga Nacional Preta Mortagua, Azal Espanhol
Tricadeira Tinta Amarela, Trincadeira Preta, Crato Preto, Folha de Abóbora, Mortagua. Espadeiro, Toneiro, Negrada, Castelão
Valdosa Tinta Valdosa
Verejoa Tinta Verejoa
Verdelho Tto Verdelho, Verdelho Feijão, Feijão, Mindeço
Vinhao Tinto, Tinto Nacional, Negrão, Pé de Perdiz, Espadeiro Preto, Tinta Antiga, Tinta de Parada, Sousão

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