terça-feira, 16 de agosto de 2022

AS VIDEIRAS E O ESTRESSE HÍDRICO

 Este ano, mais do que nunca, a Europa está sofrendo com a estiagem prolongada e em alguns estados a videira já vem sofrendo com estresse hídrico. Considerando que o verão europeu está longe de terminar, os produtores de uvas para vinho de Itália, França e Espanha estão muito preocupados com as consequências de falta de chuvas. Mas, de fato, qual poderiam ser os problemas que a seca pode levar para a videira?

No curto prazo a consequência imediata é uma diminuição nos volumes produzidos e grandes dificuldades na fase do amadurecimento. Analisando as questões relativas ao ciclo vegetativo da videira, sem ser técnicos demais, antes da coloração (ou maturação) a seca limita a biossíntese dos taninos, dos ácidos orgânicos e de alguns precursores aromáticos, além de limitar o teor de açúcar das uvas e o tamanho dos bagos. Obvio que estas consequências variam, e muito, em função dos tipos de terreno e das castas em consideração.

Por exemplo, os terrenos argilosos, onde o solo tem a capacidade de capturar a água e de disponibilizá-la de forma gradual, garantem uma melhor resposta em termos fisiológicos ao estresse hídrico. As diversas castas se podem dividir em duas grandes famílias em relação ao comportamento à estiagem: as isoídricas e as não isoídricas. Isoídrico é o comportamento das plantas que fecham logo os estômatos para manter a água no interior da planta, garantindo um nível hídrico estável nas folhas durante o dia, para reduzir a transpiração e, de consequência, a perda hídrica. Porém o fechamento dos estômatos não permite a entrada de CO2, limitando, deste jeito a fotossíntese da planta. Uma das castas que tem este comportamento é a Montepulciano, que sofre bastante a estiagem.

Quando falamos de comportamento não isoídrico a planta reage a falta de água fechando só parcialmente os estômatos, de forma a garantir o cumprimento da fotossíntese. É o caso da casta Sangiovese, a rainha das uvas viníferas italianas, especialmente da Toscana, que é capaz de suportar até longos períodos de estiagem.

Além das consequências de curto prazo, qual poderiam ser os impactos das estiagens prolongada no longo prazo? Como explicou a revista francesa "Vitisphere" Alaine Deloir, professor do Istitut Agro de Montpellier e um dos maiores experts de fisiologia da videira da França, "as chuvas e a irrigação durante o amadurecimento não permitem recuperar o que foi perdido e a estiagem dificulta ainda mais a estocagem do carbono no solo, uma falta que a videira pagará só daqui a 10 anos"