quarta-feira, 13 de setembro de 2017

LAMBRUSCO: herói ou vilão?

Como italiano não posso deixar de pensar que o  Lambrusco seja mais um vinho que represente bem a realidade enológica italiana, oriundo de um sistema produtivo que ao longo dos anos privilegiou os volumes para satisfazer a sempre crescente demanda do mercado internacional.
Para muitos o Lambrusco, um vinho fácil de se beber, pouco alcoólico, frisante ou espumante, seco ou amabile, é o vilão entre os vinhos italianos e seu sucesso só se deve ao baixo preço de venda que justificaria o sucesso nos mercados internacionais dos países emergentes onde o consumidor tem pouco conhecimento dos vinhos em geral. Poucos dias atrás em um blog sobre vinho me deparei com uma postagem, justamente sobre o Lambrusco, onde o autor dizia, entre outras coisas que....."Por ser um vinho fácil de beber, docinho e com uma quantidade de gás suficiente para esconder boa parte de seus defeitos, o Lambrusco se tornou o vinho mais exportado da Itália".
Não escondo que este ataque a um vinho da minha terra me deixou um pouco triste, mas decidi refletir mais objetivamente sobre o tema para entender melhor qual o papel do Lambrusco no cenário vitivinícola internacional, especialmente aqui no nosso País, e não pude deixar de pensar que:
  • O Lambrusco é um vinho ideal para os consumidores iniciantes, pois congrega todas as características do vinho fácil de beber, ou seja um baixo teor de álcool, presença de gás e possibilidade de ser seco ou amabile. Ou seja para um consumidor que não esteja acostumado a consumir vinho, especialmente em um país tropical, a possibilidade de começar a experiencia do consumo de vinho com um produto menos complicado, e que pode ser tomado gelado, é tudo de bom;
  • O sistema produtivo mais utilizado para o cultivo das uvas lambrusco (sistema cooperativado) era mais voltado a produção de grandes volumes de uvas e, consequentemente, de vinhos, para garantir o bem estar social da famílias cooperativadas, o que, se de um lado permitiu que volumes expressivos pudessem satisfazer a demanda sempre crescente dos mercados estrangeiros, do outro restringiu a produção de qualidade ao mercado interno, regional, onde os vinhos Lambruscos, graças a acidez acentuada, são parceiros ideais da típica cozinha da Emília Romagna;
  • O consumo de Lambrusco na Itália  se concentra, em sua maioria, no vinho TINTO SECO (infelizmente não são disponíveis dados estatísticos) e, em uma porcentagem menor, no TINTO AMABILE. É muito raro encontrar nos supermercados italianos Lambrusco branco e ainda por cima amabile que, no Brasil, ao contrario, é campeão de vendas;
Depois de refletir sobre os pontos acima cheguei a conclusão que não se pode julgar este vinho como herói ou vilão, apesar do Lambrusco congregar algumas peculiaridades de ambos os adjetivos anteriormente utilizados.
Pessoalmente acho que tem mais a ver com a figura de herói que vilão, porque permitiu que o brasileiro no começo dos anos noventa, acostumado a consumir whisky ou cerveja durante as refeições, começasse a transição do próprio paladar e se educasse ao consumo do vinho graças as suas características únicas. Esta transição foi fundamental para que, em poucos anos, o consumidor nacional passasse a conhecer e apreciar mais o vinho e prova disso são o sucesso dos vários cursos ministrados pela associações de categoria que estão criando um numero sempre crescente  de enófilos, confrarias, clubes e blogs.
O importante é beber o vinho que proporcione mais prazer, pois beber vinho deve ser uma experiência pessoal, subjetiva, que pode ser compartilhada com amigos, sem se importar se o vinho é ou não badalado na mídia ou na crítica: desde que o vinho seja do agrado, com preço acessível, e de qualidade, porquê não?!
Então amigos, um brinde com nosso vinho de preferência, mas sem exagerar

Nenhum comentário:

Postar um comentário