quinta-feira, 25 de setembro de 2025

SAFRA 2025 NA ITÁLIA - PREVISÃO DE AUMENTO

 Os produtores italianos prevêem para 2025 uma colheita de vinho de 47,4 milhões de hectolitros. Isso significa um aumento de 8% em relação ao ano anterior. Em comparação com a média dos últimos dois anos, a quantidade aumenta 2%. A Itália mantém assim a sua posição de maior produtor mundial de vinho, à frente da França (37,4 milhões de hectolitros) e da Espanha (36,8 milhões de hectolitros). Com base nas estimativas da Associação Italiana de Vinhos (Unione Italiana Vini – UIV), da Associação Italiana de Enólogos (Assoenologi) e do Instituto de Pesquisa de Mercado Agrícola Ismea o Veneto é a região com maior produção em 2025, com 11,9 milhões de hectolitros. Seguem-se Puglia, com nove milhões de hectolitros, e Emilia-Romagna, com 7,1 milhões de hectolitros. Juntas, as três regiões representam quase 60% da colheita italiana de vinho em 2025.

As posições quatro a seis do ranking são ocupadas pela Sicília (3,3 milhões de hectolitros), Abruzzo (2,8 milhões de hectolitros) e Piemonte (2,8 milhões de hectolitros). A Toscana ocupa o sétimo lugar, com 2,3 milhões de hectolitros. Nas posições oito a dez seguem-se Friuli-Venezia Giulia (1,8 milhões de hl), Trentino-Alto Ádige (1,2 milhões de hl) e Lombardia (1,1 milhões de hl). 

Graças à primavera chuvosa, as vinhas italianas conseguiram manter as próprias reservas hídricas, de modo que as videiras superaram bem as ondas de calor do verão. Até agora, mesmo o mau tempo teve pouco impacto na quantidade da colheita.

A Toscana deverá sofrer a maior perda de safra, com 13%. Na Emilia-Romagna, Sardenha e Ligúria, a quantidade da safra permaneceu igual à do ano anterior, enquanto em todas as outras regiões foi maior. O maior aumento na quantidade é registrado pela Basilicata, com 40%, seguida por Abruzzo e Molise, com 25% e 20%, respectivamente, e pela Sicília, com 20%.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

URUGUAI - PEQUENO PAIS, MAS COM GRANDES VINHOS

 A cultura vinícola do Uruguai prospera com suas vinícolas familiares e um clima costeiro que lembra o de Bordeaux. Com uma tradição vinícola que remonta ao século XVIII, a maioria dos vinhedos hoje está concentrada no sul, onde as brisas refrescantes do Atlântico aumentam a acidez e o frescor. A casta Tannat, trazida pelos imigrantes bascos de Madiran, na França, é a uva emblemática do Uruguai, destacando-se na paisagem plana para produzir alguns dos vinhos mais ousados do mundo. Esta combinação de tradição, clima e inovação faz do Uruguai uma estrela em ascensão no mundo do vinho. O Uruguai adotou a Tannat como sua uva emblemática; embora sua área de vinhedos seja comparável à de Saint-Émilion, em Bordeaux, o Uruguai produz vinhos artesanais poderosos que ganharam fama e admiração internacional pela própria qualidade.

Com 168 vinicolas atuantes no País o Uruguai hoje conta com uma superfície plantada de aproximadamente 6.000 hectares disribuída em seis regiões (litoral norte, litoral sul, metropolitana, oceânica, central e norte), com uma produção media anula de 950.000 hectolitros, dos quais o 76% são vinhos tintos e o 24% brancos, onde a Tannat ocupa quase o 30% de toda superfície plantada. Além da Tannat, as outras castas mais plantada no Uruguai são, em ordem descrescente, a Moscatel de Hamburgo, Merlot, Ugni Blanc, Cabernet Sauvignon e Albariño.

ÁREA METROPOLITANA


Esta região é o coração da produção vinícola do Uruguai, abrigando mais de 70% das vinícolas do país em Canelones, Montevidéu e San José. Influenciados pelo Rio da Prata, os solos da região, derivados de sedimentos fluviais, são ideais para variedades brancas como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Viognier, mas são particularmente perfeitos para a casta Tannat.

Canelones

Esta é a região central da produção vinícola do Uruguai, responsável por 65% dos vinhos do país. Possui uma paisagem suavemente ondulada e solos diversificados, incluindo granito rosa com 600 milhões de anos, que confere uma estrutura mineral aos vinhos.

Montevideu

Lar de alguns dos vinhedos mais antigos do Uruguai, onde vemos vinhedos contornando paisagens urbanas. Possui precipitação anual suficiente para tornar a irrigação desnecessária, resultando em vinhos frescos, mas saborosos.

San José

Quarta maior área produtora do país, é conhecida pelo seu Tannat e pelas condições climáticas semelhantes às de Canelones.

ÀREA OCEÂNICA


Conhecida pela influência do Atlântico, esta região abrange Maldonado e Rocha e apresenta altitudes mais elevadas e maior diversidade geológica do que outras regiões. O clima oceânico mais frio retarda a maturação das uvas, aumentando a complexidade do sabor.

Maldonado

Uma região vinícola emergente com solos diversificados, incluindo rochas cristalinas antigas e cascalho bem drenado, que contribuem para vinhos ricos em minerais e poderosos, especialmente o Tannat. Também produz exemplares salgados e saborosos de Albariño.

Rocha

Beneficia dos efeitos refrescantes do Atlântico, produzindo vinhos frescos e distintos. Embora apenas algumas vinhas sejam plantadas aqui, podemos encontrar uvas de clima mais frio, como a Pinot Noir.

LITORAL SUL


Esta região inclui Colônia, Rio Negro e Soriano, caracterizada por solos diversos, como sedimentos argilosos, calcários e arenosos. O clima quente e ameno, influenciado pelos rios próximos, oferece condições ideais para a produção de vinho tinto, especialmente para variedades de maturação tardia, como Cabernet Sauvignon e Tannat.

Colonia

Conhecida por seus solos pedregosos e rica herança, incluindo a vinícola mais antiga do Uruguai. A região ao redor de Carmelo e do rio San Juan, com seus terroirs únicos e clima ameno, é especialmente adequada para vinhos tintos de alta qualidade.

Soriano

Com apenas alguns vinhedos situados ao longo do rio Uruguai, podemos encontrar solos aluviais férteis com boa drenagem, ideais para a produção de vinhos tintos encorpados, particularmente Tannat.

Rio Negro

Caracterizada por solos arenosos-argilosos e calcários, Río Negro goza de um clima moderado pelo rio, produzindo vinhos com profundidade e requinte. A região é conhecida pelos seus Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat estruturados e bem equilibrados.

LITORAL NORTE

Estendendo-se ao longo do rio Uruguai, esta região inclui Artigas, Paysandú e Salto, situadas entre 50 e 60 metros acima do nível do mar. Caracteriza-se por temperaturas elevadas, amplitudes térmicas significativas devido à influência do rio e solos profundos e diversificados. Espere vinhos tintos maduros e ricos, como Cabernet Sauvignon, Tannat e Syrah.

Artigas

Caracterizada por solos profundos sobre arenito, com temperaturas elevadas e umidade significativa, ideal para a produção de vinhos com sabores e aromas intensos.

Paysandú

Conhecida por seus solos férteis e ricos em calcário, ideais para as variedades Tannat, Cabernet Sauvignon e Syrah, contribuindo para vinhos com sabores ricos.

Salto

Apresenta solos argilosos e arenosos sobre cascalho com boa drenagem, ideais para vinhos finos, especialmente Tannat, que desenvolve um perfil bem equilibrado e mais suave devido às amplitudes térmicas significativas entre o dia e a noite.

NORTE


Localizada em formações geológicas de arenito, esta região inclui as sub-regiões de Rivera e Tacuarembó. As vinhas aqui beneficiam de solos que aumentam a concentração de açúcar, polifenóis e antocianinas nas uvas, ideais para tintos ricos e poderosos.

Rivera

Notável por seus vinhedos nas colinas e solos arenosos vermelhos profundos com excelente drenagem, particularmente em Cerro Chapeu. A cerca de 220 metros de altitude, com um clima continental mais seco e mais horas de sol, é uma excelente área para variedades de maturação tardia, como Cabernet Sauvignon.

Tacuarembó

Beneficia-se de características geológicas semelhantes, produzindo vinhos com sabores concentrados e cor profunda, como o Cabernet Franc.

ÀREA CENTRAL


Esta região, que inclui Durazno, Florida e Lavalleja, goza de um clima mais quente e mais horas de sol do que outras regiões. É caracterizada por um terreno montanhoso com solos ácidos de fertilidade média a baixa, variando de texturas argilosas a arenosas. Os solos arenosos ajudam a conferir níveis mais elevados de aromas aos vinhos.

Durazno

Com apenas algumas vinhas, esta região possui uma variedade de castas, incluindo Tannat, mas também Malbec e Viognier.

Florida

Apresenta elevações e solos variados, tendo apenas algumas vinhas em toda a região, com uvas que vão desde a Black Muscat à Marselan.

Lavalleja

Colinas onduladas com solos bem drenados contribuem para vinhos complexos e aromáticos, como o Black Muscat, também conhecida como Moscatel de Hamburgo, a segunda uva mais plantada no Uruguai.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

VINDIMA 2025 AINDA MENOR PARA O CHAMPAGNE

O cenário muda, o vinho vende menos do que antes e os estoques nas adegas são uma preocupação cada vez mais presente na Itália, assim como em outros paises produtores. Uma situação nada favorável que é frequentemente enfrentada com novas estratégias, a nível produtivo, com o objetivo de reequilibrar o mercado. E também o champanhe, o espumante mais prestigiado e icônico do mundo, um dos símbolos brilhantes da França vinícola, está se adaptando. E se, como todos os anos nesta época, os viticultores e as maisons da Champagne se reuniram em Épernay no âmbito do Comité Champagne, a organização interprofissional da cadeia produtiva que representa mais de 16.000 viticultores e 350 maisons, para definir em conjunto as condições para a próxima vindima, a novidade é que também este ano os rendimentos serão reduzidos. De fato, a produção comercializável de 2025 foi fixada em 9.000 kg por hectare, conforme consta em uma nota do Comité. Uma decisão “fruto de um esforço coletivo entre viticultores e maisons de Champagne” e que “faz parte de um processo gradual de redução dos estoques para readaptar a produção às realidades do mercado e preparar coletivamente um futuro sereno”.

Não é uma novidade, considerando que a produção comercializável de 2024 havia sido fixada em 10.000 kg/ha, um nível inferior ao da safra anterior (11.400 kg/ha), ou seja, a de 2023, e que levava em conta a situação dos mercados. Fazendo um cálculo rápido, portanto, em dois anos a produção comercializável perdeu 2.400 kg por hectare. Em outras palavras, a produção teve uma redução constante de garrafas a serem colocadas no mercado, da ordem de algumas milhões por ano, em uma trajetória que continua nessa direção. O Comité Champagne precisou que “embora o setor vitivinícola ofereça grandes perspectivas, o contexto econômico global continua caracterizado pela incerteza. Maxime Toubart, copresidente do Comité Champagne, enviou, no entanto, uma mensagem de confiança: “esta decisão reflete uma região da Champagne visionária, unida e responsável, capaz de agir com moderação em um mundo em constante evolução, mantendo uma confiança inabalável em seus pontos fortes fundamentais. Demonstra um espírito de coesão diante dos desafios e uma capacidade constante de se projetar com ambição”.

Apesar das mensagens de otimismo as vendas de 2024, não deram motivos para comemorar. Em janeiro de 2025, o Comité estimou remessas totais de 271,4 milhões de garrafas, uma queda de 9,2% em relação a 2023 e, para o mercado francês, 118,2 milhões de garrafas, -7,2% em relação a 2023. As exportações também caíram, totalizando 153,2 milhões de garrafas, uma queda de 10,8% em relação ao ano anterior. No entanto, a safra de 2025, de acordo com o Comité Champagne, promete ser bastante favorável. Os vinhedos apresentam uma certa homogeneidade e, graças às condições climáticas geralmente amenas, as videiras se beneficiaram de um ambiente favorável ao seu desenvolvimento.


segunda-feira, 15 de setembro de 2025

85% DOS JOVENS DA GEN Z DESCOBREM AS MARCAS DO FOOD&WINES NAS MIDIAS SOCIAIS

 Com 43 milhões de italianos ativos nas redes sociais e 92% dos jovens italianos entre 15 e 24 anos que as utilizam diariamente, o diálogo entre as marcas e as novas gerações passa cada vez mais por essas plataformas. Especialmente no setor alimentício, que hoje não é mais percebido apenas como um âmbito ligado ao sabor ou ao produto em si, mas como um espaço de expressão cultural e pessoal. E o mesmo vale para o mundo do vinho.

Para a Geração Z, alimentos e bebidas representam identidade, valores e narrativa: 85% dos jovens com menos de 26 anos afirmam descobrir novas marcas através das redes sociais e baseiam suas escolhas nos conteúdos sociais propostos por criadores e influenciadores considerados autênticos. A tendência é destacada no artigo “When Food Speaks Culture” (Quando a comida fala cultura), elaborado pela Inda Research, da Flu, parte do Uniting Group, dedicado ao estudo e à análise da Economia da Influência, em colaboração com a Escola de Gestão do Politécnico de Milão.

De acordo com esta análise, o Instagram, o TikTok e o YouTube tornaram-se verdadeiros locais de descoberta e relacionamento para as marcas, onde a estética, o tom e o valor cultural do que é contado fazem a diferença. E a Geração Z não deseja simples anúncios publicitários, mas procura histórias autênticas, pessoas reais e uma linguagem que reflita o seu imaginário. Portanto, também os alimentos e os vinhos devem comunicar de forma autêntica e alinhada com os valores desta geração. De acordo com a análise, existem várias maneiras pelas quais os criadores podem gerar valor, por exemplo, aqueles que ajudam as marcas a se conectarem com necessidades emergentes — da inclusão à sustentabilidade —, tornando-se amplificadores de temas relevantes para as novas gerações. Além disso, destaca-se uma forte atenção aos alimentos “livres de” e “ricos em”, às dietas personalizadas e aos produtos funcionais, mas, acima de tudo, aumenta a exigência de transparência, rastreabilidade e coerência com os valores ambientais e sociais. “Para a Geração Z, a comida não é apenas um produto a ser consumido, mas uma linguagem através da qual se expressa quem se é, o que se escolhe e o que se quer comunicar ao mundo. É identidade, relação, posicionamento cultural. Por isso, hoje em dia, as marcas do setor alimentar não podem mais limitar-se a falar sobre o seu produto”, sublinha Rosario Magro, diretor de operações da FLU, parte do Uniting Group.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

COMO ESTÁ EVOLUINDO A PROFISSÃO DO SOMMELIER?

Sem sombra de dúvida nos últimos anos a figura do sommelier está mudando de maneira significativa, assumindo funções muito mais voltadas ao entendimento e acompanhamentos das preferencias dos consumidores, seja em retaurantes que na hospitality das cantinas que investem no enoturismo, deixando do lado aquele "estrelismo" intimidador dos profissionais do passado que, especialmente nos restaurantes mais sofisticados, eram muito mais voltados a criar elitismo do que aconselhar os clientes na escolha mais apropriada do vinho a ser consumido.

Para compreender como está evoluindo essa importante figura no serviço de vinhos em restaurantes, mas também na hospitalidade das vinícolas, levo até voçes a recente entrevista que foi feita a Alberto Toffanello, eleito a pouco como melhor Sommelier do Veneto de 2025.

COMO VC COMEÇOU A TRABALHAR NO MUNDO DO VINHO?

Minha trajetória começou na restauração, depois trabalhei por quatro anos em laboratório, na área de análise. Mas sentia que aquele trabalho era restrito, não me estimulava o suficiente. Então, decidi voltar à restauração, minha primeira paixão. Fiz o mestrado na Alma (Escola de formação para profissionais no setor de restaurantes), me formando em 2023. Após o estágio, comecei a trabalhar para uma empresa nos Colli Euganei, onde hoje me ocupo de degustações e recepção. É um ambiente que me permite treinar constantemente, interagir com as pessoas, contar histórias, emocionar. O vinho é um mundo vastíssimo, nunca se termina de aprender. Além disso, está em constante evolução: os gostos mudam, o público muda.

COMO VOCE AVALIA A CAPACIDADE DE DIVULGAR O VINHO POR PARTE DOS SOMMELIERS, MAITRES/GARÇONS E VINÍCOLAS? 

Em geral, vejo que a abordagem do consumidor médio ao vinho mudou muito e melhorou muito em relação a alguns anos atrás. Hoje, quem trabalha nessa área precisa necessariamente ter formação. A figura do sommelier hoje não se limita apenas à mesa do restaurante. O sommelier, em primeiro lugar, deve explicar o vinho ao cliente, mas também está se tornando cada vez mais central na comunicação das empresas. As vinícolas estão apostando muito em figuras de hospitalidade: é uma função muito procurada, pelo que posso ver, e que deve ter claramente competências específicas. Vejo também que muitos jovens que chegam à vinícola estão preparados, sabem o que querem. Talvez os números estejam diminuindo, mas a qualidade do interesse cresceu: quem se aproxima o faz com maior consciência, mesmo que não seja um técnico.

O QUE FAZ DE UM SOMMELIER, UM BOM SOMMELIER?

Empatia. A capacidade de ler quem está à sua frente. Já pela forma como entra, como se move, você pode entender muito. É preciso distinguir a timidez da reserva: às vezes, um cliente parece frio, mas talvez seja apenas inseguro. Nossa tarefa é deixá-lo à vontade. O vinho é emoção, sempre. E para sugerir o vinho certo, não basta perguntar o que ele quer beber: é preciso entender a emoção que o move, o que ele procura naquele momento. Também é importante despertar a curiosidade, surpreender, propor algo novo. E, em poucos segundos, avaliar outro aspecto crucial: o poder de compra. Porque tudo deve ser calibrado, inclusive a oferta.


segunda-feira, 8 de setembro de 2025

ESPUMANTES NA TAÇA OU NO FLUTE?

Ha algum tempo no entre os wines lovers e consumidores mais atentos está surgindo uma dúvida, ditada principalmente pela mudanças de habito dos consumidores europeus, sobre qual a taça mais apropriada para consumo dos vinhos espumantes, se a taça flute que tradicionalmente foi utilizada ou se a taça de vinhos brancos, rigorosamente servida em quase toda europa quando se consome algum espumante. Existem algumas teorias, algumas técnicas, outras nem tanto assim, sobre as vantagens de se utilizar a taça flute ou aquela que representa uma inovação para o consumo de espumantes (taça de vinho branco) e para tentar aprofundar de forma técnica e scientifica este assunto, nesta postagem levarei para voces alguns resultados de estudo recente elaborado por Gerard Ligier-Belair, professor de fisica e quimica da Universidade de Reims Champagne, especializado em estudos sobre o comportamento físico-químico dos espeumantes.

No seu último estudo "Understanding the tasting of Champagne and other sparkling wines from a scientific perspective" publicado na Food Research International em 24/09/2024, no parágrafo 7 do estudo "Existe uma taça ideal para melhor apreciar a degustação de vinhos espumantes" ele escreve que quando se trata de degustar vinhos espumantes, o CO2 dissolvido e volátil tornam-se parâmetros fundamentais ao longo da degustação. Quando se degusta um vinho espumante em uma taça, o CO2 gasoso e os compostos aromáticos voláteis invadem progressivamente o “espaço livre” acima da taça, modificando assim a percepção global dos aromas pelo degustador. No entanto, os seres humanos podem sentir o CO2 gasoso, que produz uma sensação de ardor, como observado há mais de 100 anos pelo filósofo escocês Alexander Bain. Descobriu-se que o CO2 ativa os mesmos receptores de dor no cérebro profundo que são ativados ao provar alimentos picantes. De fato, inalar uma concentração de CO2 gasoso próxima a 20% ou superior em um espaço contido provoca uma sensação pungente muito desagradável, a chamada “picada carbônica” (Cain e Murphy, 1980, Wise et al., 2003), que pode perturbar completamente a percepção do bouquet do vinho. Utilizando uma técnica de reação de transferência de prótons-espectrometria de massa (PTR-MS), Pozo-Bayon et al. (2009) conseguiu se identificar uma maior liberação de compostos aromáticos acima de águas carbonatadas do que acima de águas sem gás, tanto em condições estáticas quanto dinâmicas (quando o espaço livre é diluído pelo ar a uma taxa constante).

Para melhorar a experiência de degustação de vinhos espumantes e, finalmente, tentar identificar os melhores formatos de taças, o monitoramento do CO2 em fase gasosa no espaço livre de várias taças com champanhe e outros vinhos espumantes tornou-se um tema de interesse nos últimos doze anos. Há décadas que as vantagens e desvantagens das duas formas icônicas de copos para degustação de champanhe (ou seja, a taça alta e estreita versus a taça mais larga) são debatidas em bares, clubes, restaurantes e revistas especializadas em vinhos. Mas, até muito recentemente, nunca foram apresentados dados analíticos sobre o dilema milenar relativo ao efeito de cada tipo de copo na degustação de champanhe. Para estudar o efeito do vidro na percepção do CO2 gasoso e dos aromas, primeiro medimos os níveis de CO2 gasoso por cromatografia gasosa. O CO2 gasoso foi encontrado em uma concentração quase duas vezes maior acima da taça flute do que acima da taça coupe. Nossos resultados sugerem claramente que a taça estreita canaliza o CO2 gasoso e, portanto, certamente em maior medida os aromas, de forma mais eficaz, enquanto a taça mais larga os “dilui”. Nossos resultados são, portanto, consistentes com as análises sensoriais dos vinhos Champagne realizadas por degustadores humanos. É de fato geralmente aceito que o aroma do champanhe, e especialmente seu “primeiro nariz”, é mais irritante quando o champanhe é servido em uma taça estreita do que quando é servido em uma taça muito mais larga. Também utilizamos imagens infravermelhas para visualizar o CO2 gasoso escapando de ambos os tipos de copo e confirmamos a tendência do copo estreito em gerar, em seu espaço superior, concentrações de CO2 em fase gasosa muito mais elevadas do que o copo mais largo. 


Nas figuras acima podemos notar CO2 gasoso escapando de uma taça flute (esquerda) ou de uma taça coupe (direita), revelado por imagem infravermelha, cerca de dez segundos após os dois copos terem sido servidos com 100 mL de champanhe; a mistura de gases acima dos copos é mais escura, pois está concentrada com CO2 gasoso (barra de escala = 1 cm).

Talvez agora exista um motivo (técnico) para escloher as taças flute ao invez das taças coupe que os europeus tantos amam, para degustar os vinhos espumantes


quinta-feira, 4 de setembro de 2025

ACORDO UE-MERCOSUL: OS PRODUTORES EUROPEUS PRESSIONAM PARA UMA SOLUÇÃO RÁPIDA

 Mais de seis meses após a assinatura em Montevidéu, a Comissão Europeia apresenta o acordo comercial celebrado em dezembro passado com os países do Mercosul. Embora tenha sido bem recebido em geral, o acordo foi e continua sendo fonte de tensões entre os países membros (leia-se França). Alguns governos solicitaram salvaguardas específicas, especialmente para a agricultura. O pacote comercial deverá ser aprovado tanto pelo Conselho quanto pelo Parlamento. O acordo deverá eliminar os direitos aduaneiros sobre mais de 90% das mercadorias comunitárias exportadas para a região. Além disso, o acordo facilitará a participação das empresas europeias em contratos públicos nos países da organização latino-americana.

O Comitê Europeu das Empresas Vinícolas (CEEV) vê com grande satisfação a adoção pela Comissão Europeia dos acordos comerciais UE-Mercosul e UE-México. “Em um momento de crescentes desafios geopolíticos e econômicos, é mais importante do que nunca que a UE garanta e diversifique suas relações comerciais com parceiros confiáveis. Estes acordos representam um passo para frente necessário para as exportações vinícolas europeias”, afirma Marzia Varvaglione, presidente do CEEV. “Solicitamos ao Parlamento Europeu e ao Conselho que avancem rapidamente com o processo de ratificação, para que as empresas vinícolas e os consumidores de ambas as partes possam beneficiar sem demora destes acordos históricos”.

O setor vitivinícola da UE é o maior exportador mundial, com quase 16 bilhões de euros em exportações na última safra. As exportações de vinho da UE para o Brasil ultrapassaram os 200 milhões de euros, enquanto as exportações para o México atingiram um nível semelhante (198 milhões de euros): ambos representam mercados dinâmicos com forte potencial de crescimento. 

O CEEV e seus membros apoiam firmemente esses acordos comerciais, que melhorarão significativamente o acesso aos mercados vinícolas do Brasil e do México graças à eliminação das tarifas alfandegárias, reforçarão a proteção das indicações geográficas, simplificarão os procedimentos de importação e criarão condições mais equitativas para o comércio de vinho. Os acordos trazem vantagens claras e não representam riscos de queda para os produtores de vinho da UE. “Eles criam certeza para o nosso setor”, afirma o CEEV. 

“Sejamos claros: o Brasil e o México não podem substituir as perdas que sofremos no mercado norte-americano. No entanto, eles representam mercados vinícolas dinâmicos, nos quais os vinhos europeus são muito apreciados e nos quais vemos importantes oportunidades de crescimento”, afirmou Ignacio Sánchez Recarte, secretário-geral do CEEV. “No atual período de incerteza tarifária, o novo acordo eliminará a tarifa de 27% aplicada pelo Brasil aos vinhos da UE, que representa um sério obstáculo à competitividade e ao crescimento de nossas empresas”, acrescentou. Esses acordos não só são benéficos para a competitividade dos vinhos europeus, mas também reforçam o papel da UE como líder global na promoção da estabilidade e de um comércio aberto e baseado em regras. 

"Depois de 25 anos de tratativas, o acordo UE-Mercosul se confirma com um dos acordos comerciais mais ambiciosos que a UE já negociou" declarou Mark Titterigton, Diretor Geral da spiritsEUROPE. "Para o setor das bebidas alcoólicas oferece uma oportunidade fundamental para expandir o acesso ao mercado, garantir uma forte proteção a nossas indicações geográficas e promover a cooperaçõa normativa com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Cada mes de atraso corresponde a uma ocasião perdida para o crescimento da ocupação nas comunidades rurais europeias, metivo pelo qual pedimos a máxima urgência para o fechamento e a assinatura do acordo".

Quando em vigor, ambos os acordos facilitarão o comércio e ampliarão a escolha dos consumidores. O acordo UE-Mercosul, em específico, retirará taxas de importação de até 35% em mercados estratégicos, diminuirá as barreiras não tarifárias e oferecerá flexibilidade logística e normativa aos exportadores europeus. Inclui proteções por mais de 350 indicações geográficas de bebidas alcoólicas da UE, no respeito das indicaçoes geográficas das contrapartes do Mercosul, e oferece uma vantagem competitiva aos exportadores europeus, caso seja assinado rapidamente

Será que no curto prazo conseguiremos beber os vinhos que mais amamos a preços mais acessíveis. Assim espero!!!

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

EXPORTAÇÃO DO VINHO ITALIANO DIMINUI NO PRIMEIRO QUADRIMESTRE DO ANO

Apesar das complicações geradas pelo clima de incerteza relativa ao tarifaço dos EUA, as exportações de vinho italiano continuam vivas, mesmo que, pela primeira vez em muito tempo, apresentem um sinal negativo. A nível mundial, nos primeiros 4 meses de 2025, registou 2,5 bilhões de euros em valor, uma queda de -0,86% em relação ao mesmo período de 2024, e de -3,67% em volume, para 665.436.632 litros. Os dados acima foram publicados recentemente pelo Istat (Istituto Centrale di Statistica). Os dois principais mercados para a Itália, Estados Unidos e Alemanha, continuam positivos em valor. Por outro lado, a Rússia despenca, e o Reino Unido também cai: a desaceleração desses dois países teve um peso importante, especialmente a russa, para a “balança” econômica do vinho italiano.

Havia o receio de um sinal negativo proveniente dos Estados Unidos, após os estoques “preventivos” no final de 2024 e início de 2025 para antecipar as temidas tarifas anunciadas. E se o impacto, no quadrimestre encerrado em abril, primeiro mês com a certeza das tarifas impostas por Trump (por algumas horas a 20%, 10% a partir de 5 de abril e 15% a partir do 01/08), não foi “fatal”, o crescimento, em relação aos meses anteriores, é ainda assim muito mais lento: +6,59% em relação a abril de 2024, para um valor de 667,2 milhões de euros. A Alemanha, que continua a ser líder europeia em importações, mantém-se estável, mas ainda assim com um sinal positivo de 376,6 milhões de euros (+0,2%), ao contrário do Reino Unido, que perde cerca de 15 milhões de euros em comparação com o primeiro quadrimestre de 2024, registrando 227,2 milhões de euros (-6,3%). Por outro lado, a Suíça mantém-se estável com 131,2 milhões de euros (+0,41%), à frente do Canadá (125,5 milhões de euros, +8,4%), país que apresenta um bom crescimento e que poderá ter potencial para o vinho italiano, tendo em conta o bloqueio quase total das compras de vinho americano após as tensões com o governo Trump. A queda, embora marginal, também afetou a França, onde os valores caíram abaixo dos 100 milhões de euros, ficando em 99,5 milhões (-0,9%). Boas notícias, por outro lado, vêm dos Países Baixos (+1,6%), com 80,5 milhões de euros, e da Bélgica (+4,3%), com 72,8 milhões de euros. A Suécia permanece em linha com o ano anterior, atingindo 63,2 milhões de euros (-0,6%).

Entre os países que registaram uma queda, destacam-se o Japão, com 54,5 milhões de euros (-10,8%), e, especialmente, a Rússia, cujos dados pesam consideravelmente nas exportações italianas no primeiro quadrimestre: o valor de 46,1 milhões de euros representa uma descida de 55% em relação aos doze meses anteriores (mais de 56 milhões de euros a menos). Também em queda estão a Áustria (-4,4%), com 47,8 milhões de euros, e a China, que continua sua queda nas compras de vinho italiano (-17,6%, para 24,1 milhões de euros). No mercado oriental, uma recuperação, ainda que “tímida”, vem da Coreia do Sul (+2,6%), com 17,5 milhões de euros.

Houve uma desaceleração, isso é fora de questão, e nos próximos meses é fácil imaginar que as coisas vão piorar ainda mais. Sem esquecer, porém, que 2024 foi saudado como um ano recorde para as exportações de vinho italiano. O estagnação dos volumes, com muitas vinícolas italianas sofrendo devido aos estoques não vendidos e uma colheita prestes a começar, nos faz refletir. 




segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CONTROLES NA FRANÇA: IRREGULARIDADES DE VÁRIOS TIPOS EM 38% DAS VINICOLAS INSPECIONADAS

Proteger os consumidores contra práticas enganosas, os produtores contra a concorrência desleal e salvaguardar as denominações. Esses são os objetivos da Direction générale de la concurrence, de la consommation et de la répression des fraudes (Dgccrf), que em 2022 e 2023 inspecionou mais de 7.800 estabelecimentos para verificar a rastreabilidade do vinho, as práticas de vinificação e a precisão das informações fornecidas aos consumidores na França, país que lidera o mercado mundial de vinho em termos de valor. Nas inspeções realizadas ao nível da produção e distribuição, a maioria das fábricas revelou-se conforme, mas mais de 30% ao nível da produção e mais de 40% ao nível da distribuição apresentaram deficiências. Esta informação consta de uma nota publicada pelo Ministério da Economia, Finanças e Soberania Industrial e Digital da França.

Em termos de produção, foram inspecionadas mais de 1.600 fábricas em todo o país, e embora a maioria dos operadores cumpra as normas, em 38% foram constatadas violações de vários tipos (era 31% em 2020-2021), incluindo 150 processos penais relacionados com as práticas mais graves, que representam cerca de 15% dos casos. No setor de distribuição, por outro lado, foram inspecionados mais de 6.200 estabelecimentos comerciais ativos nas várias fases da cadeia de distribuição (grandes e médias empresas de varejo, lojas de vinhos, lojas de correspondência, bares, hotéis e restaurantes). 43% dos operadores inspecionados apresentaram anomalias, principalmente relacionadas com o conhecimento insuficiente da legislação. Os casos de fraude comprovada resultaram em 40 sanções administrativas e 80 denúncias criminais, o que corresponde a 3% dos casos. A investigação, explica a nota do Ministério, evidencia um conhecimento relativamente escasso da legislação no setor hoteleiro e de restauração, com descumprimentos recorrentes nas cartas de vinhos (omissão da origem do vinho). Também foram sancionados alguns casos raros de substituição, uma prática que consiste em substituir um vinho por outro mais barato sem o conhecimento do consumidor. Além disso, em grandes e médios estabelecimentos comerciais, os investigadores detectaram apresentações de vinhos que poderiam induzir os consumidores em erro (vinhos sem indicação geográfica ou vinhos estrangeiros expostos na secção de vinhos AOP/IGP franceses, exposição dos preços longe dos produtos correspondentes), violações que poderiam ser explicadas pela falta de formação do pessoal.

Obviamente, é preciso especificar que se trata de uma amostra reduzida em relação à vastidão da indústria vinícola francesa. Basta pensar que, de acordo com o estudo da Deloitte para a Vin & Société, em 2024 existem 59.000 empresas vinícolas distribuídas por 750.000 hectares do território nacional francês. E na Itália, quais são os números relacionados aos controles na cadeia produtiva do vinho? Superiores aos da França, em geral, visto que no Belpaese foram controlados 8.340 operadores. Os dados do “Relatório de atividades” 2024 do Icqrf - Inspetoria Central de Proteção da Qualidade e Repressão à Fraude, publicado no site do Ministério da Agricultura revelam, de fato, que, mais uma vez, o setor vitivinícola é, de longe, o mais sujeito a controles e verificações: 17.710 controles no total, mais do que o dobro dos controles realizados no setor do azeite (8.249) e mais do que o triplo dos controles realizados no setor leiteiro (5.275), com uma porcentagem de 23,4% de operadores e 14,2% de produtos com alguma irregularidade. No total, para o setor vitivinícola, os resultados dos controles resultaram em 2.583 contestações administrativas, 202 apreensões (no valor de mais de 9,9 milhões de euros), mais de 5,1 milhões de quilos de produtos apreendidos e 1.483 advertências.