O ano de 2025 será lembrado como o ano da estabilização “em baixa”, mas com um vencedor claro. De acordo com as estimativas oficiais apresentadas pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) em 12 de novembro, a produção global atingiu uma média de 232 milhões de hectolitros. O dado marca um aumento de 3% em relação ao “vermelho profundo” de 2024, mas esconde uma verdade incômoda: ainda estamos 7% abaixo da média dos últimos cinco anos. Não é um recomeço, é uma convalescença.
A verdadeira notícia não é o total mundial, mas o salto da Itália. Com 47,3 milhões de hectolitros, a viticultura italiana não só se confirma líder, como registra um aumento de 8% em relação ao ano anterior. Um dado que pesa como uma pedra quando comparado com os concorrentes diretos: a França continua em queda (-1%), parando em 35,9 milhões de hectolitros, enquanto a Espanha perde mais 6%, caindo para 29,4 milhões de hectolitros. A diferença entre Roma e Paris está aumentando: a Itália parece ter encontrado um equilíbrio agronômico que faltou este ano aos seus vizinhos do outro lado dos Alpes, pressionados pelo arranque de vinhas e pela crise de Bordeaux.
Se a Europa enfrenta dificuldades, o Hemisfério Sul apresenta cenários contrastantes que contradizem a ideia de um ano uniforme.
A Austrália sai do pesadelo de 2024 e retoma o quinto lugar mundial. Mas os verdadeiros feitos vêm da Nova Zelândia (+32%) e do Brasil (+38%), favorecidos por condições climáticas quase perfeitas. A Europa Oriental também dá um golpe importante: a Romênia registra +29%, chegando a 4,1 milhões de hectolitros e confirmando-se como o sexto maior produtor da UE.
O Chile paga uma conta muito alta ao clima, registrando uma queda significativa que o afasta do topo da América do Sul, deixando o campo livre para a Argentina.Se a Europa enfrenta dificuldades, o Hemisfério Sul apresenta cenários contrastantes que contradizem a ideia de um ano uniforme.
A OIV fala de um mercado “substancialmente equilibrado”, mas é preciso ter cuidado para não confundir equilíbrio com saúde. Os estoques se estabilizam não porque se vende mais, mas porque a produção contida equilibra perfeitamente uma queda global da demanda. Estamos em uma economia de estagnação, onde a única saída é o valor, não o volume.
Os dados desagregados mostram uma correlação cada vez mais estreita entre a estabilidade produtiva e a saúde do ecossistema vinícola. As regiões com melhor desempenho (como o sul da Itália, +19% segundo as estimativas desagregadas) são frequentemente aquelas onde a videira é obrigada a se adaptar a estresses extremos. Aqui, o tema da biodiversidade funcional volta a ser central. As empresas que investiram não apenas em tecnologia, mas também em “capital natural” (plantio de gramíneas, corredores ecológicos para as abelhas, manejo regenerativo do solo) estão demonstrando uma resiliência superior aos choques hídricos e térmicos. Em uma safra em que o clima mais uma vez foi um árbitro severo, as abelhas na vinha não são poesia bucólica: são o seguro de vida para as colheitas do futuro.
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