sexta-feira, 19 de julho de 2019

NOTAS DE VIAGEM - Terceira Parte

Continuando meu roteiro, Itália a dentro, durante minha última viagem à minha terrinha, subindo do Sul para o Centro, fiz uma etapa em Montepulciano, cidade única e sensacional:


A minha visita não foi de prazer mas sim de trabalho pois à 5 Km de Montepulciano, mais exatamente em Valiano di Montepulciano existe a sede da Azienda Agricola Lunadoro, que faz parte do Grupo Schenk, que eu represento no Brasil a mais de 15 anos.


A empresa é uma pequena joia, adquirida pelo Grupo Schenk em 2016, é localizada dentro do parque Natural da Val d'Orcia, e conta com um terreno de 40 ha, cuja 12 de superfície plantada, dos quais 10 ha. com uva Sangiovese e os outros 2 ha entre Merlot, Petit Vedot e Cabernet Sauvignon.


A empresa só produz vinhos de grande qualidade e, por enquanto, os produtos atualmente comercializados são o Rosso di Montepulciano Doc, Vino Nobile di Montepulciano Docg Pagliareto e Vino Nobile di Montepulciano Riserva Docg Il Quercione, com uma extrema atenção a vinificação e aos processos de envelhecimento em barriques e barris de madeira de diferentes tamanhos:


Hoje vou falar de um vinho que por si só, dispensa apresentações já que foi premiado este ano com o prestigioso reconhecimento do Gambero Rosso de 3 copos:

11/06 Restaurante "LA BRICIOLA"


VINO NOBILE DI MONTEPULCIANO DOCG 2015 Pagliareto - Lunadoro

Este vinho é, sem sombra de dúvida, um dos principais expoentes dos vinhos tradicionais e de qualidade da Itália, clássico exemplo de vinhos da Toscana: antes de entrar no mérito do sistema de vinificação deste vinho, é preciso falar que, infelizmente, os vinhos Nobile di Montepulciano são poucos conhecidos mundo afora porque, infelizmente, sempre viveram as sombras dos mais blasonados Brunello di Montalcino e do mesmo Chianti Clássico, mas em termos de qualidade, nada devem ao Brunello. 
A qualidade deste vinho começa pela porcentagem de Sangiovese utilizada: enquanto o disciplinar de produção estabelece que o mínimo de casta Sangiovese (Prugnolo Gentile como é chamado em Montepulciano) deve ser de 70%, este vinho utiliza Sangiovese em pureza, que nem o Brunello di Montalcino. 
As uvas são colhidas de forma manual na primeira quinzena de Outubro e após uma atenta seleção dos bagos o mosto é fermentado em tanques de aço inox e o vinho obtido afinado em barris de carvalho francês de 20 e 30 hl.  por 24 meses.
O vinho obtido é de cor vermelho rubi tendente ao grená, com bouquet complexo e caraterístico de frutas vermelhas maduras, pimenta preta, geleia de ameixas, com notas floreais de violeta e de chocolate amargo. Na boca é extremamente equilibrado, com taninos macios e uma acidez perfeita que ressalta a longa persistência.
Um vinho SENSACIONAL

sábado, 13 de julho de 2019

VOLTA À VIDA EM FIRENZE UMA DAS HISTÓRICAS "JANELINHAS DO VINHO"

Em Firenze, na Via Spirito Santo, acaba de reabrir uma das 170 históricas "buchette del vino" (buraquinhos para vinho - que por questões de duplo sentido chamaremos de Janelinhas do vinho), que nos remetem a uma tradição histórica típica da cidade nos anos de 1.500


Talvez nem todo munda sabe que em muitos prédios históricos de Firenze existem pequenas aberturas localizadas, aproximadamente, a 1 m. do solo que foram ao longo dos anos esquecidas: fechadas, muradas ou eliminadas em ocasião da reestruturação dos edifícios.


Estas pequenas aberturas eram utilizadas, por volta de 1.500, para uma realizar na cidade de Firenze  um hábito tradicional da época: a maioria dos prédios pertencentes as famílias nobres abriam estas janelinhas ao lado dos portões de entrada para vender taças de vinho ou até garrafas. Todas as famílias bastante nobres e ricas de se permitir possuir, perto da cidade, videiras para a produção de vinho, vendia o néctar aos cidadãos comuns em troca de dinheiro.
Cada janela do vinho tinha um estilo diferente em função da família produtora e da importância social da mesma, pois o etilo era o cartão de visita para os compradores finais.
Hoje em dia ainda existem 170 janelas espalhadas em toda a cidade, cuja 145 estão no centro histórico de Firenze.


sexta-feira, 5 de julho de 2019

NOTAS DE VIAGEM - Segunda parte

Dando continuidade as minhas anotações enológicas de minha última viagem a Itália, apresento para vcs um vinho muito pouco conhecido pela grande maioria dos consumidores brasileiros, pois este vinho, que por sinal acho fantástico, é típico da região da Campania, e suas uvas só cultivadas aos pés do Vesúvio, o vulcão mais famoso da Itália: estamos falando do LACHRYMA CHRISTI Vesuvio Bianco DOC.

10/06 Restaurante I NOBILI DEL VESUVIO



LACRYMA CHRISTI VESUVIO BIANCO DOC 2018 Tenuta Poggio al Vulcano
Este vinho, sem sombra de dúvida, é um dos tesouros mais valiosos da enologia italiana, por qualidade, história e mito.
Vamos começar pelo nome:a lenda conta que Lúcifer antes de ser enviado para o inferno roubou um pedaço de paraíso e com este pedaço criou o golfo de Napoli e o Vesúvio é justamente o buraco na terra que foi criado para exiliar Lúcifer no inferno. Porém quando Jesus viu a beleza desta criação chorou de felicidade e as lágrimas ajudaram a fertilizar o solo ao redor do vulcão onde se proliferaram as videiras que dão origem a este vinho tão apreciado. Já a história nos conta que as videiras ainda hoje encontradas aos pés do vesúvio foram levadas pelos gregos no V século antes de Cristo e ali encontraram o terreno ideal graças a fertilidade do solo vulcânico, tanto que durante a época romana  Marco Valerio Marziale escreve que "Deus amou mais estas colinas que as suas nativas de Nisa".
Apesar destas importantes raízes históricas  a DOC Vesúvio foi obtida somente em 1983 e os vinhos desta denominação podem ser vinificados nas versões branco, tinto, rosado, espumante e licoroso. Neste caso específico os vinhos brancos devem ser obtidos com, no mínimo de 35 à 80% da casta autóctone Coda di Volpe (conhecida na região como Caprettone) e/ou Verdeca e o restante 20% com uvas Falanghina e/ou Greco. Já para o tinto as uvas autorizadas são, 80% mínimo de Piedirosso (outra autóctone da região, mais conhecida localmente como Per'e Palummo) e/ou Sciascinoso (a quantidade mínima de Piedirosso deve ser, de qualquer jeito, 50%), e o restante 20% de Aglianico. Os vinhos cuja graduação alcoólica é superior de 1 à 1,5% graus sobre a base alcoólica estabelecida pelo disciplinar do Vesúvio Doc (11%), podem ser chamados de Lachryma Christi.
De cor amarelo palha com reflexos dourados este vinho branco é extremamente floreal com aromas doces de flores brancas (ginestra) e tonalidades frutadas que variam desde abacaxi, pêssego amarelo e banana.
Na boca é seco, com acidez levemente marcada, bem estruturado, extremamente mineral com aromas frutado-floreias de grande persistências aromáticas.
Um vinho que sem sombra de dúvida vale a pena degustar pelo menos uma vez na vida.