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quinta-feira, 31 de julho de 2025

O PAPEL DOS ENÓLOGOS NAS VINÍCOLAS

O papel do enólogo é, na maioria das vezes, romantizado demais: evoca imagens de degustações diárias de vinhos, conversas com VIPs e vinhedos tranquilos, mas a verdade é que os enólogos lidam com muitas variáveis aleatórias para produzir o vinho que os consumidores bebem em suas taças.
Em primeiro lugar a produção de vinho não segue regras universais, mas o trabalho desenvolvido muito depende do tipo da empresa vinicola. Por exemplo nas vinícolas de propriedade os vinhos são produzidos exclusivamente com uvas dos vinhodos de propriedade da vinícola e a produção ocorre inteiramente na propriedade. Nas cooperativas vinícolas os produtores locais vendem as próprias uvas para uma vinícola regional de maior tamanho que produz, comercializa e vende o vinho. Essas cooperativas, normalmente, são muito presentes em regiões com vinhedos menores e preços dos vinhos mais baixos. As vinícolas prestadoras de serviços, por fim, oferecem serviços de vinificação sob contratos aos clientes: estes serviços podem incluir o processamento das uvas, o armazenamento nas adegas, o blend, envelhecimento e até as análises laboratoriais.
Vamos desvendar qual o papel efetivo dos enólogos (e que poucos conhecem) nas cantinas produtoras, começando pela primeira fase do processo, a vindima.
A vindima é a epoca mais movimentada para todos os trabalhadores (e não somente para os enólogos) nas vinícolas, pois diariamente chegam toneladas toneladas de uvas para serem processadas para se inciar o processo de vinificação. Decidir quando colher as uvas é uma das decisões mais importante para os enólogos. Se colher muito cedo a acidez pode ficar excessiva, os açúcares muito baixos e os taninos muito verdes, mas se colher tarde demais se apresentarão os problemas opostos. Cada enólogo tem uma abordagem diferente para decidir quando colher as uvas: alguns confiam na ciência, outros nos sentidos e alguns outros na combinação de ambos. Em uma vinicola de propriedade os enólogos podem se dar o luxo de percorrer os vinhedos todos os dias antes da vindima, observando, tocando e degustando as uvas, considerando os seguintes fatores:
  • quão dura ou grossas são as cascas;
  • as sementes são verdes (indicando que a fruta ainda não está madura) ou marrons?
  • as uvas tem sabor azedo ou doce?
  • as uvas tem um bom sabor?
Repetir esta prática todos os dias fornece uma base para tomar uma decisão mais informada e as análises do brix, PH e acidez total das uvas fornecem maiores dados para a tomada de decisão. Já em uma cooperativa vinícola os produtores colhem as uvas após cumprirem as regras estabelecidas pela vinicola em conformidade aos requisitos fitossanitários (medições incluíndo nvel de doçura e acidez) da cooperativa. O quanto os produtores atendem os parâmetros determina o quanto eles recebem por suas colheitas. Pela própria natureza do negócio nas vinícolas prestadoras de serviços  as funções do enólogo começam com a chegada das uvas que, muitas vezes, são conferidas a empresa de várias áreas de plantio.
Mas a chegada das uvas é só o começo do trabalho para o enólogo. Dependendo das uvas, da qualidade e do estilo de vinho ele deve tomar algumas decisão como descobrir como preparar as uvas para vinificação, encontrar o recipiente certo para fermentação e escolher o recipiente certo para o envelhecimento. A organização antes da colheita é fundamental para um processamento tranquilo quando a vindima está a todo vapor. Os enólogos decidem com antecedência se utilizar tanques de aço inox ou concreto, ânforas de terracota ou barris neutros. Uma vinícola boutique pode processar 250 Tons em uma safra inteira, já uma vinícola prestadora de serviços processa esta quanttidade em um único dia, por isso é extremamente importante um alto nível de organização logística.
Além de tomar decisões importantes na hora da produção, os enólogos enfrentam inúmeros desafios: é preciso responder e reagir as variáveis que mudam do vinhedo as garrafas e deste jeito é de suma importância degustar e analisar olfativamente o vinho durante a fermentação e envelhecimento, permitindo o controle continuo da evolução do produto. È obvio que existem muitas outras considerações que os enólogos devem levar em conta, desde o tipo de leveduras a serem utilizadas na fermentação alcoólica até o estilo de vinho desejado e a melhor forma de trabalhar com os clientes. Simone Sedilesu enologo da Cantina Vikevike em Mamioada (Sardegna) afirma que "meus vinhos são o produto dos vinhedos. De um vinhedo jovem (15 anos) nasce meu Cannonau base, fácil de beber. Este vinho pode ser consumido jovem mas pode envelhecer muito bem garças a sua acidez. O vinehdo mais antigo (com vinhas de mais de 100 anos) é utilizado para produzir meu Riserva. Este é um vinho que melhora após 3 ou 4 anos de envelhecimento mostrando mais complexidade que os outros".
O período de maior intensidade de trabalho para os enólogos é durante os 2/3 meses da epoca da produção do vinho que se começa com a colheita, mas eles trabalham o ano todo. O que fazem no restante do ano? A seguir alguns exemplos:
  • garantir que os vinhos (quando necessário) completem a fermentação malolática;
  • determinar os produtos finais através do ensaio dos blends das varias uvas processadas;
  • engarrafar os vinhos;
  • gerenciar o vinhedo (poda, condução da videira, manejo da copa, etc.);
  • viagens e divulgações técnicas para a xcomercialização dos vinhos.
Ser enólogo é um trabalho empolgante e gratificante, no entanto o trabalho que ele exerce demanda dele resiliência, estratégia e planejamento. Com certeza não é um trabalho para quem não goste de trabalhar. Uma coisa é certa: TRABALHAR DURO DÁ SEDE!!!!

terça-feira, 29 de julho de 2025

ROTUNDONA: MOLÉCULA RESPONSÁVEL PELO AROMA DE PIMENTA NOS VINHOS

Já sentiu aquel aroma de pimenta do reino ou especiarias similares no vinho? A responsável pela percepção aromática é a Rotundona que embora seja um composto olfativo ela também persiste no olfato retronasal, aquele que sentimos, para nós entender melhor, no "fundo do nariz" ao beber. 

Tecnicamente falando a Rotundona é um sequiterpeno oxigenado (coisa complicada mesmo!!), ou seja, uma molécula com 15 átomos de carbono derivada de terpenos (substâncias comuns em plantas aromáticas), com uma estrutura química complexa que inclui oxigênio (tive que pedir ajuda a um amigo químico para fornecer esta explicação!!!). È percebido pelo nariz humano em concentrações na faixa de nanogramas por litro. Além disso, ela tem um comportamento complicado nas analises: tende a se camuflar com outras substâncias, é altamente retentiva nas colunas cromatográficas e, para completar a obra, nem todos conseguem sentí-la. Facil ne?! Isso porque algumas pessoas não tem receptores olfativos capazes de detectá-la.

A maior parte das pesquisas conduzidas mundialmente sobre a Rotundona diz respeito a variedade como Syrah e Gamay. Diversos fatores parecem influenciar a sintese da Rotundona na videira, como o clima, o manejo do vinhedo, o tempo de maturação, entre outros. A Rotundona está presente quase exclusivamente nas cascas das uvas, motivo pelo qual a maceração durante a fermentação alcoólica é fundamental para sua extração. No entanto apenas uma pequena fração do composto é transferida para o vinho final. Quantidade que, ainda assim, é suficiente para contribuir com as notas apimentadas características. 

sexta-feira, 25 de julho de 2025

VINHOS ROSÉS: MERCADOS E TENDÊNCIAS

Coral, pêssego, salmão, casca de cebola ou framboesa: há um tom para todos os amantes de vinho que, de acordo com as últimas tendências enológicas, estão cada vez mais se apaixonando pelo “rosa” na taça. E se a França continua sendo o maior produtor e consumidor de vinhos rosados do mundo — basta pensar na Côte de Provence, território que deu início a um verdadeiro estilo internacional reconhecido e imitado em todo o mundo —, seguida pelos Estados Unidos, a Itália conquista posições e, acima de tudo, eleva o nível de qualidade, do Alto Adige ao Lago de Garda, do Abruzzo à Sicília, passando pelo Salento. No dia 27 de junho celebrou-se o Dia Internacional do Rosé, para dar início à temporada de verão na Europa e à tendência, cada vez mais difundida, de vinhos mais frescos e menos pesados para se beber, com o rosé como candidato ideal. O primeiro rosé italiano, o Five Roses da Leone de Castris, foi engarrafado há 80 anos (e possui uma clientela fiel também nos Estados Unidos), e agora a escolha de rótulos italianos é ampla.

De acordo com o “Observatoire Mondiale du Rosé”, publicado pela FranceAgriMer e pelo Conseil Interprofessionnel del Vins de Provence, um dos distritos mais importantes do mundo para este tipo de vinho, a França é o primeiro país produtor de rosé (30% do total), à frente da Espanha (21%), Estados Unidos e Itália (10% para ambos). As exportações globais mantêm-se em 10,9 milhões de hectolitros em 2022, com a Espanha continuando a ser o primeiro exportador (38% do volume), à frente da França (18% o volume) e da Itália, com os rosés que estão se posicionando na gama alta. O faturamento global das exportações atinge 2,4 bilhões de euros (+0,3 bilhões de euros em relação a 2021) e, em termos de avaliação, os rosés franceses reforçam sua liderança, com um preço médio elevado que tende a subir. Apesar de uma queda na produção e no consumo interno, a França continua sendo líder indiscutível entre os vinhos rosados: primeiro produtor, primeiro consumidor, primeiro exportador em valor (e o segundo em volume) e o principal importador em volume.

Mas a Itália está cada vez mais voltada para a produção de rosés, elevando a oferta qualitativa. Entre os rosés made in Italy, o primeiro foi o Five Roses, vinho-ícone da vinícola Leone De Castris, na Puglia, que hoje conta com 300 hectares para uma produção total de 2,5 milhões de garrafas. Blend de Negramaro e Malvasia Nera produzido a partir de vinhas cultivadas em sistema alberello, é sem dúvida um dos vinhos mais significativos da Puglia vinícola. Deve seu nome ao local de origem das uvas (contrada Cinque Rose) e ao “capricho” do general aliado Charles Poletti que, no final da Segunda Guerra Mundial, obteve um grande fornecimento deste rosé, mas quis dar-lhe um nome em inglês. De cor rosa cereja brilhante e cristalina, seus aromas frutados lembram cereja, morango e romã, enquanto o paladar é agradavelmente fresco, suave e saboroso.

quarta-feira, 23 de julho de 2025

VALORITALIA: 2024 FOI UM ANO DE CONSOLIDAÇÃO DO VINHO ITALIANO

 2,019 bilhões de garrafas de vinho DOP e IGP colocadas no mercado, uma quantidade 0,46% inferior à do ano anterior, mas 1,4% superior à média do período 2019-2023, com o engarrafamento aumentando em quase 110 milhões de garrafas em relação a 2019, resultado obtido apesar de um contexto global marcado pela estagnação do consumo de vinho. E ainda um cenário em que as denominações com prevalência total ou parcial de vinhos tintos sofreram uma contração de 6,8%, embora das 128 DO que compõem a categoria, 38 tenham encerrado o ano com valores positivos, entre elas algumas denominações importantes como Barolo, Brunello di Montalcino, Bolgheri e Maremma Toscana. Mas também há uma perda de 5% nas denominações de vinhos brancos, com exceção do Pinot Grigio delle Venezie, que ganha 3% em volume, e um salto importante, de 5%, para os espumantes de uvas brancas, liderados pelo Prosecco Doc (+7%), Asolo Prosecco Docg (+50%) e Alta Langa (+9,1%). Tendências que evidenciam uma mudança nas preferências dos consumidores e o surgimento de um estilo de consumo diferente. Essas são algumas das evidências que emergiram do Relatório Anual 2025 da Valoritalia, líder em certificação vitivinícola com 37 escritórios operacionais em toda a Itália, 219 denominações de origem certificadas, equivalentes a 56% da produção nacional de vinhos de qualidade, no valor de 9,23 bilhões de euros (dos quais 5,3 bilhões DOC, 2,6 DOCG, 1,2 IGT)

O estudo apresentado mês passado em Roma (edição n.º 7) destacou a evolução do setor em 2024, sublinhando a solidez do mercado vinícola italiano, mesmo num contexto internacional decididamente incerto como o atual. Os últimos cinco anos foram comprometidos por uma série de dinâmicas inesperadas que continuam a determinar um quadro de incerteza econômica entre a epidemia de Covid, duas guerras em curso e a recente ameaça de tarifas dos Estados Unidos. Das três categorias em que se divide a pirâmide qualitativa dos vinhos italianos com denominação, os IGT, que no ano anterior tinham registado um aumento de 16,5%, sofreram uma contração de 6,3%, embora os volumes totais continuem a ser superiores ao nível atingido em 2022; pelo terceiro ano consecutivo, os vinhos DOCG sofreram uma perda (-2,3%), o que os levou a um nível ligeiramente superior ao registrado em 2019. E, por fim, os vinhos DOC, que aumentaram 2,7%, compensando quase totalmente as perdas dos IGT e DOCG. Surge também a questão do aspecto estrutural, que tem o seu peso: quanto maior for uma denominação, maior será a sua estabilidade no mercado. Das 219 denominações certificadas pela Valoritalia, as 20 primeiras concentram 86% do engarrafado e as 40 primeiras quase 95%, enquanto as últimas 139 atingem com dificuldade uns escassos 1,4%. Além disso, 40% de todas as denominações geram um faturamento não superior a 1 milhão de euros, enquanto, no lado oposto, apenas 26 denominações, ou seja, 12%, ultrapassam os 50 milhões. A produção certificada pela Valoritalia corresponde a mais de 18,7 milhões de hectolitros, dos quais 9,5 milhões são DOC, quase 4,1 milhões DOCG e 5,1 IGT. Em termos de valor do engarrafamento das principais Denominações de Origem certificadas pela Valoritalia, o pódio é dominado pelo Prosecco DOC (2,8 milhões de euros), à frente do Delle Venezie DOC (979 milhões de euros) e do Conegliano Valdobbiadene Prosecco DOCG (540 milhões de euros).

“Apesar do contexto internacional complexo”, destacou Giuseppe Liberatore, diretor-geral da Valoritalia, “2024 confirma-se um ano de consolidação, não brilhante, mas ainda assim positivo, com 2,019 bilhões de garrafas colocadas no mercado, uma ligeira queda em relação a 2023 (0,46%), mas um crescimento de 1,4% em relação à média dos últimos cinco anos. Um dado particularmente significativo que mostra como a cadeia italiana mantém os volumes elevados de 2021, alcançados com o boom inesperado do consumo na era covid, com mais de 110 milhões de garrafas a mais em relação a 2019, sinal da competitividade de nossas empresas mesmo em momentos difíceis como este”. 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

FATURAMENTO DO E-COMMERCE DE VINHO EM 2025 ALCANÇARÁ 6,73 BILHÕES DE DOLARES

As vendas globais de comércio eletrônico de vinhos atingirão US$ 6,73 bilhões em 2025: desse ano até 2029, espera-se uma taxa de crescimento anual (Cagr 2025-2029) de 2,94%, com um volume de mercado esperado de US$ 7,56 bilhões. Com US$ 3,11 bilhões em 2025, a maior parte do volume de negócios é gerada nos Estados Unidos. Esses são os números mais recentes divulgados pela Statista, uma plataforma global de dados e business intelligence.

No geral, espera-se que o mercado global de comércio eletrônico de vinhos atinja 327,8 milhões de usuários até 2029. A penetração será de 3,9% em 2025 e deverá chegar a 4,5% em 2029. A receita média por usuário (Arpu) deverá ser de US$ 26,61.

Em termos específicos, para o vinho tranquilo, espera-se que as vendas mundiais de comércio eletrônico atinjam US$ 5,49 bilhões em 2025, com uma taxa de crescimento anual de 2,84% e um volume de mercado de US$ 6,14 bilhões até 2029. Mesmo para esse tipo de vinho, a maioria das vendas ocorrerá nos Estados Unidos. A penetração de usuários será de 2,5% em 2025 e espera-se que chegue a 2,9% em 2029. A receita média por usuário seria de US$ 33,29, superior à média geral. Por outro lado, no que diz respeito ao comércio eletrônico de vinhos espumantes, espera-se que as vendas mundiais atinjam US$ 944,70 milhões em 2025. A taxa de crescimento anual deverá ser de 3,40% (o valor mais alto da média geral e do vinho tranquilo), com um volume de mercado estimado em US$ 1,08 bilhão até 2029. No mercado de vinhos espumantes, espera-se que o número de usuários que compram on-line chegue a 254,1 milhões até 2029. A penetração de usuários será de 3,0% em 2025 e deverá chegar a 3,5% em 2029. Por fim, Statista prevê que a receita média por usuário será de US$ 4,80, o que é significativamente menor do que para vinhos tranquilos.



quinta-feira, 17 de julho de 2025

A CRISE DOS VINHOS EM BORDEUAX

A lenda de Bordeaux, Château Margaux, também confirma as dificuldades não apenas do grande e mais famoso território francês de produção, mas do mercado de vinhos como um todo, seguindo a tendência geral e a de todos os outros grandes nomes, com um preço de lançamento para a safra de 2024, anunciado nos últimos dias, de € 276 por garrafa “ex-négociant”, o mais baixo desde 2014, e de £ 3.240 por caixa no mercado de Londres, -25% em relação a 2023. Um sinal forte e claro, e longe de ser positivo, o do “En Primeur” deste ano, juntamente com muitos outros que relatamos nas últimas semanas o que emerge dos lançamentos dos châteaux e também das várias análises de um território, Bordeaux, que pesa muito no mercado de vinhos em termos de volumes e valores e que, de certa forma, espelha muitas tendências no comércio de vinhos em geral, em todos os níveis.

Porque, como aponta um estudo da Wine Lister, de propriedade do ‘Le Figaro Vin’, por exemplo, os preços de lançamento da safra 2024 dos 105 vinhos lançados no mercado até 3 de junho mostram uma queda média de -30%, mesmo em comparação com os preços médios de mercado das 10 safras anteriores. E se o “pior” é o Leoville Las Cases, com -48%, no “Top 10” desse peculiar e não muito prestigiado ranking, há também nomes muito importantes como Margaux, Lafite Rothschild e Mouton Rothschild. Além disso, para esfriar o entusiasmo, há também as notas dos críticos que, embora ainda sejam altas, em média são menos lisonjeiras do que para a safra de 2023, com exceção dos vinhos brancos (as pontuações analisadas são as de Antonio Galloni e Neal Martin para Vinous.com, Bettane + Desseauve, Jancis Robinson.com e Ella Lister do “Le Figaro”). Bem, a avaliação média dos críticos é de 94,61 pontos para os vinhos de 2024, um ponto a menos do que os 95,61 de 2023, em uma tendência que afeta todas as “Denominações de Bordeaux”, com Pomerol ficando em primeiro lugar por uma pequena margem (94,83 pontos), mas ainda com uma avaliação mais severa da safra de 2023 e, sobretudo, da de 2022. Entre os vinhos individuais, os únicos que ultrapassaram 95 pontos foram Latour, o melhor no geral (95,75), Montrose, Haut-Brion Blanc, Lafite, Ducru Beaucaillou, La Conseillante, Mouton, Margaux e La Mission Haut Brion Blanc.

Mas, apesar de uma queda sem precedentes nos preços, devido a um quadro internacional de mercado no mínimo complexo, e de uma avaliação da taça, para os críticos, que não é das melhores, a demanda por vinhos de Bordeaux não está recomeçando, pelo contrário: de acordo com a análise da plataforma inglesa Liv-Ex, o desinteresse parece estar crescendo.  E se “no passado, a ameaça de perder alocações - e, portanto, abrir mão do acesso a safras fortes - protegia as vendas, mesmo quando os vinhos eram decepcionantes e os preços extravagantes”, este ano, apesar dos preços baixos, as ofertas certamente não foram abundantes. E a alavancagem das alocações parece não funcionar mais, já que, segundo alguns comerciantes de vinho, hoje “você pode obter o que quiser de qualquer pessoa a qualquer momento, e tem sido assim há anos”. E embora isso, ressalta a Liv-Ex, possa ser um ponto de vista extremo, verifica-se que mesmo aqueles que participaram até agora do “En Primeur” foram bastante cautelosos, reduzindo suas compras em até 50%. Também levando em conta o fato de que ainda há muitos vinhos de safras mais antigas e maduras disponíveis a preços atraentes, e que estocar, mesmo financeiramente, está se tornando um fardo para comerciantes e colecionadores.

"Não há como negar, a campanha deste ano foi decepcionante para todos os envolvidos. Uma pesquisa com comerciantes do Reino Unido indica que os valores de venda deste ano atingiram seu nível mais baixo desde 2013. Mesmo os châteaux que reduziram seus preços abaixo dos disponíveis no mercado não venderam, apesar dos retornos mais baixos. Sem dúvida, foram feitos esforços louváveis. Infelizmente, na maioria dos casos, não foi suficiente", comenta Liv-Ex. Ele também acrescenta outro aspecto que se aplica a todo o mercado de vinhos: hoje, em comparação com o passado, as avaliações de vinhos e os dados de preços são cada vez mais fáceis de obter, mesmo para colecionadores e consumidores. E os comerciantes precisam se adaptar a esse cenário. "Os compradores não estão necessariamente desinteressados em Bordeaux (ou no vinho em geral), eles estão desinteressados em preços que não correspondem ao mercado e estão duplamente desinteressados em serem enganados.






quarta-feira, 16 de julho de 2025

OMS x ALCOOL - UM NOVO CAPITULO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) continua sua “batalha” contra os efeitos do consumo de álcool, moderado ou não que seja. E se recentemente voltou a tocar no assunto, apontando o dedo para o acesso “barato” ao álcool na Europa, conclamando os governos a adotarem políticas fiscais mais rígidas, incluindo impostos especiais de consumo, impostos gerais e a introdução de um preço mínimo, a fim de reduzir os danos do consumo de álcool, á alguns dias, o Departamento de Promoção da Saúde da OMS anunciou a designação do Instituto de Marketing Social e Saúde (Ismh) da Universidade de Stirling, na Escócia (um dos berços para produção do uísque, diga-se de passagem), como o novo Centro Colaborador da OMS para a Política do Álcool e Pesquisa em Saúde Pública. O Ismh torna-se, assim, um dos poucos centros colaboradores da OMS focados especificamente em políticas de álcool e apoiará, como explica uma nota, “pesquisas sobre políticas de álcool em países de baixa e média renda, particularmente no que diz respeito ao licenciamento de álcool, regulamentação do marketing de álcool e combate ao consumo de álcool não regulamentado”. A parceria tem como objetivo gerar estratégias para orientar as políticas de saúde pública e proteger indivíduos e comunidades dos danos sociais e à saúde associados ao consumo de álcool".

Rüdiger Krech, Diretor do Departamento de Promoção da Saúde da OMS, disse que "chegou a hora de abordar os danos causados pelo consumo de álcool e fornecer aos tomadores de decisão as evidências e ferramentas práticas necessárias para promover mudanças significativas que salvarão vidas. Esse novo Centro Colaborador desempenhará um papel fundamental no enfrentamento dessa crise de saúde pública, muitas vezes oculta". Robyn Burton, codiretora do Centro, acrescentou que "com a saturação do mercado de álcool nos países de alta renda, o setor de álcool voltou sua atenção para os mercados globais como uma nova fonte de crescimento e lucro, estimulando o aumento do consumo em países de baixa e média renda. Nosso trabalho para a OMS ajudará a evitar os impactos negativos de longo alcance do álcool sobre a saúde e o bem-estar, a produtividade e as comunidades nesses países, colaborando com líderes de pesquisa locais para gerar evidências de alta qualidade para os formuladores de políticas".

O que vc acham?

terça-feira, 15 de julho de 2025

O CONSUMO DE VINHO NA ITALIA POR IDADE (2013-2023)

Esta publicação sobre o consumo de vinho na Itália por faixa etária foi motivada pelo comentário que nossa amiga Sandra Francese deixou no dia 09 de Julho no post: PORQUE A GERAÇÃO Z NÃO ABRAÇA O CONSUMO DO VINHO?


Os dados sobre o consumo por faixas etárias nos mostram que a penetração do consumo de vinho está crescendo na Itália, especialmente na parte jovem da população, com uma forte preponderância do consumo esporádico e um claro declínio no consumo diário. Esta conclusão é explicada no gráfico abaixo que mostra a penetração do consumo de vinho em 2013 e 2023: por exemplo, em 2023, 50% dos jovens de 20 a 24 anos bebiam vinho, 10 anos antes eram 42%. A tendência de maior consumo em 2023 vale para todas as faixas etárias, menos aquela intermediária com idade dos consumidores entre 55 a 74 anos.


A segunda coisa interessante sobre esse gráfico é o pico, agora na faixa etária de 35-44 anos, enquanto em 2013 estava em 55-59. Obviamente, estamos raciocinando em um contexto de declínio do consumo de vinho per capita, com o consumo diário (excluindo aqui o consumo excessivo) diminuindo significativamente para todas as faixas etárias (no segundo gráfico está evidenciada a penetração do consumo de 1-2 taças de vinho/dia, por idade), sendo substituído pelo consumo esporádico, que está aumentando acentuadamente nas faixas etárias intermediárias (o terceiro gráfico mostra a penetração do consumo esporádico de vinho por faixa etária).





A terceira consideração é a evolução do consumo de vinho das faixas etárias que estão envelhecendo, ou seja, aqueles que em 2007 tinham entre 25 e 34 anos, em 2017 estão na faixa seguinte e em 2023 no meio entre essa faixa e a seguinte. Isso nos diz que 55,5% das pessoas de 25 a 34 anos de idade em 2007 bebiam vinho e que, 10 anos depois, esse percentual havia aumentado para 57,5% e, agora, 62,2%. Ou seja, isso nos diz que para essa faixa e para esses anos, aproximadamente 15 anos no total, o aumento na penetração do consumo foi de cerca de 7%.
Seguindo a mesmo raciocinio, também se evidencia que as pessoas de 50 anos (ponto médio 45-54) perdem cerca de 5 pontos na penetração do consumo de vinho, provavelmente devido a problemas de saúde.
Dito isso, as tabelas em anexo mostram o declínio constante no consumo diário de vinho, atingindo o pico, como de costume, entre os idosos: em 2023, pouco menos de 25%, em 2013, cerca de 30% da população, em 2007, cerca de 35%. Portanto, os “novos idosos” estão menos apegados ao consumo da “taça de vinho durante as refeições”.

sábado, 12 de julho de 2025

OS VINHEDOS MAIS VALORIZADOS DA ITÁLIA

Com base non dados divulgados pelo setor de pesquisa de Mediobanca na recente publicação "O setor vinicola italiano" o hectare de vinhedo mais valorizados está localizado na região do Trentino Alto Adige.
As áreas de vinhedos na região autônoma (província de Trento e Bolzano) têm o maior preço médio  da Itália: 343 mil euros por hectare. Se passarmos para a área de Caldaro Doc, na província de Bolzano, um único hectare de terra plantada com videira pode valer 900 mil euros.
Como mencionei acima, o Trentino-Alto Ádige tem a cotação média mais alta das áreas de cultivo de vinho, muito acima da segunda região, o Vêneto, cuja superficie plantada tem um valor médio de 141 mil euros. Além disso, a cotação da terra no Trentino aumentou 7,3% em comparação com os números de 2019. “A liderança do Trentino deriva da presença de uma alta porcentagem de vinhos de qualidade e de uma relativa homogeneidade no valor dos vinhedos”, explica o relatório. Poucos vinhedos e vinhos de alta qualidade. Essa é a receita vencedora. De fato, entre os vinhedos nacionais com as cotações mais altas em 2023 estão as já mencionadas três áreas Doc do Lago Caldaro e as áreas Doc do baixo Val Venosta e do Valle d'Isarco-Bressanone, cujas cotações variam entre 300 e 500 mil euros. O aumento do método clássico, por outro lado, explica o valor dos vinhedos ao norte de Trento (220-500 mil euros), voltados, principalmente, para produção do Trento doc. Mas essas não são as áreas mais ricas. Um hectare de vinhedo de Barolo DOCG, na província de Cuneo, pode chegar a um preço de cerca de 2 milhões de euros. “Nos territórios vinícolas mais vocacionados, o alto valor da terra dos vinhedos em algumas províncias é compensado pelos valores mais baixos em outros territórios”, explicou Mediobanca. O valor médio nacional da terra é de 58.100 euros por hectare.
Os altos números de Trentino-Alto Ádige também se devem à baixa porcentagem de vinhedos em relação à área agrícola utilizada. Para se ter uma ideia: no Vêneto, o cultivo de vinho representa 10,9%, e em Trentino-Alto Ádige, 3%. Outro fato que mostra a qualidade da indústria vinícola da região autônoma é a diferença entre a incidência da produção e das vendas a nível nacional: enquanto o vinho de Trentino-Alto Ádige representa 2,9% do volume total produzido na Itália em 2023, no que diz respeito ao valor, esse percentual sobe para 4,6%. Por outro lado, em termos de exportações, as duas províncias autônomas (Trento e Bolzano) respondem por 8,2% das vendas nacionais.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

TENDENCIAS DO MERCADO DO VINHO DOS EUA EM 2025

 Em conformidade a quanto evidenciado no relatório "2025 Bmo Wine Report”  elaborado pelo Wine Industry Partners a “receita” para o mercado vitivinícola dos EUA numa perspectiva futura seria a de continuar a acreditar e a implementar o canal de vendas diretas e conquistar as novas gerações de consumidores.

Embora o mercado vinícola dos EUA continue a ser o maior do mundo, a procura dos consumidores foi mais fraca do que o previsto em 2024 e até no início de 2025, com uma queda de 4% no volume total do mercado (362 milhões de caixas). Mas o reves da moeda abre cenários positivos, com o diminuição do declínio dos volumes, o que pode significar “que o mercado está atingindo uma nova base para o crescimento futuro, se as vinicolas conseguirem aumentar as vendas diretas para compensar a estagnação das vendas de vinhos premium e a queda das vendas de vinhos de baixo preço”, afirma o relatório. A maioria das empresas vinicolas dos EUA e do Canadá continua confiante no aumento das vendas e espera um crescimento do mercado global. Mas será necessário um aumento da procura por parte dos consumidores mais jovens para que as cantinas realizem o seu potencial de crescimento nos próximos anos. O canal de venda que está sendo mais considerado é o das vendas diretas: quase 40% das adegas americanas e mais de 40% das adegas canadenses aumentaram as vendas em 2024, e grande parte deste crescimento provém das vendas diretas. Não é por acaso que mais de metade das empresas entrevistadas planeja investir mais nas suas salas de degustação e clubes de vinho com o objetivo de impulsionar as vendas diretas, que constituem a principal esperança para o aumento das vendas em 2025. A tendência do mercado parece confirmar esta decisão: em 2024, os consumidores da Geração Z, com idades compreendidas entre os 21 e os 27 anos, representavam uma quota maior nos clubes de vinho das adegas do que no ano anterior.

Quais as estratégias necessárias para travar o declínio do consumo: os novos dados, explica o relatório, revelam uma diminuição do consumo de álcool desde o início da pandemia, com as preocupações de saúde relacionadas com o álcool a motivarem a moderação. E embora a maioria dos consumidores regulares de vinho continue a beber uma taça pelo menos uma vez por semana e a comprar uma garrafa que custa cerca de 15 dólares por semana (e garrafas mais caras todos os meses), os consumidores mais jovens estão mais propensos a participar a eventos de abstenção como o Dry January.

No início deste ano, o sentimento dos viticultores era otimista quanto às perspectivas do setor, apesar das dificuldades do ano anterior. Mas os desafios aumentaram, a instabilidade política e económica tornou muito mais difícil a gestão das empresas e não há muitos sinais positivos de uma volta à estabilidade nos próximos meses. Devido ao excesso de estoques acumulados após o aumento das vendas durante os anos de pandemia, a grande distribuição e os varejistas reduziram as encomendas aos fornecedores de vinho. Muitos esperavam que as estoques acumulados fossem escoados durante as vendas de Natal, mas um quarto trimestre de 2024 decepcionante revelou que o desafio do consumo poderia ser mais significativo do que o previsto.

De acordo com o relatório, os impostos dos EUA e as medidas de retaliação impostas no início de 2025 deixaram o comércio vinícola em estado de choque, uma vez que o Canadá era o principal mercado para as exportações de vinho dos EUA. Segundo o relatório, “impostos de até 200% sobre as importações da UE seriam desastrosos para muitos varejistas, restaurantes e milhares de pessoas que trabalham no setor”. Existem, no entanto, razões para otimismo. O valor total do mercado vinícola dos EUA cresceu 4% em 2024 e muitas adegas norte-americanas registaram um crescimento de dois dígitos nas vendas, graças à expansão das vendas diretas e da distribuição.

Um dos maiores desafios que o vinho enfrenta continua sendo o de estabelecer ligações entre os consumidores mais jovens, uma vez que as vendas aos melhores clientes do vinho, a geração dos Baby Boomers, diminuem à medida que eles envelhecem. A Geração X não “abraçou” o vinho como os seus pais, os Millennials viram os seus anos de trabalho marcados por uma série de crises económicas e as gerações mais jovens estão cada vez mais fragmentadas nos seus interesses e motivações. Os jovens consumidores também parecem beber consideravelmente menos quando atingem a idade legal para consumir bebidas alcoólicas. De consequencia, após três décadas de crescimento constante, os profissionais do setor vitivinícola têm de se virar para descobrir novas formas de pensar e novas tecnologias na produção de vinho e, talvez ainda mais importante, nas vendas e no marketing do vinho.

De acordo com a empresa de estudos de mercado bw166, o valor total do mercado vinícola dos EUA em 2024 cresceu 4% para 109 bilhões de dólares, enquanto o volume diminuiu em 362 milhões de caixas. No mesmo periodo do ano passado havia indicações de que o mercado poderia ultrapassar a marca dos 400 milhões de caixas até ao final de 2025, se o tradicional aumento das vendas no último trimestre tivesse sido suficiente para recuperar o excesso de estoque dos atacadistas, bem como o aumento das vendas diretas e do varejo. Apesar das expectativas não terem se concretizado, há também um número que evidencia uma recuperação: em 2023, o volume do mercado dos EUA diminuiu quase 9%, mas a diminuição deu uma freada em 2024, marcando apenas -4%. De acordo com o relatório, os produtores americanos com um preço médio por garrafa superior a 20 dólares tiveram um melhor desempenho em 2024 do que aqueles com um preço médio inferior a 20 dólares. As adegas com um preço médio inferior a 20 dólares registaram uma queda acentuada nas vendas, enquanto as adegas com preços mais elevados permaneceram inalteradas em 2023.

Uma constante nos últimos anos tem sido a diminuição constante das vendas de vinhos com preços inferiores a 11 dólares nos supermercados. Estes vinhos têm sido vitais para os grandes produtores e, em 2024, registaram uma queda de mais 6%, para menos de 40 milhões de caixas, cerca de 40% menos do que uma década antes. No entanto, durante o mesmo período, as vendas de vinhos com preços superiores a 11 dólares cresceram na direção oposta, seguindo a tendência para a "premiumização" que ajudou o vinho a se recuperar da recessão de 2009. Na década anterior, o volume constante de vendas de vinhos de baixo preço, combinado com o aumento das vendas de vinhos de preço mais elevado, impulsionou o crescimento do mercado total. O declínio dos vinhos de baixo preço está agora a reduzi-lo, “obscuraando” o impacto dos vinhos de preço mais elevado. A despesa dos consumidores com bebidas alcoólicas manteve-se inalterada em 2% de todas as despesas pessoais desde 2017, já a diminuição das vendas de vinhos de baixo preço está mudando a paisagem da viticultura californiana. Em todo o Estado, os viticultores estão extirpando milhares de hectares de vinhedos.

Para a “típica” empresa vitivinicola dos EUA, o canal do atacado representa cerca de 30% do volume total de vendas, com as vendas diretas (no local e no varejo) que cobrem 14% e o restante que é constituído por vendas diretas ao consumidor. Para as empresas que produzem mais de 50 000 caixas por ano, as vendas no atacado cobrem mais de 60%, enquanto para aquelas com um preço médio superior a 20 dólares por garrafa, as vendas diretas representam 80% ou mais. A pesquisa do ano passado revelou que 41% de todas as empresas americanas tinham registado um aumento das vendas em relação ao ano anterior, percentagem que desceu para 36% na pesquisa mais recente. Para as empresas que aumentaram as vendas em 2024, o aumento médio foi de quase 22%, e as vendas diretas foram importantes. Em 2024, 71% das empresas previam um aumento das vendas totais no ano seguinte, mas no report deste ano estamos nos 62%, com a percentagem de adegas que estimam uma diminuição das vendas que subiu de de 6% para 13%.

A forma melhor de aumentar as vendas diretas, semelhante em todas as regiões, dimensões e gamas de preços, é investir na salas de degustação, no clube de vinhos e no marketing digital. O clube de vinhos e a sala de degustação representam mais de 50 por cento das vendas totais para mais de metade das adegas, com a maior percentagem entre as que produzem entre 1.000 e menos de 5.000 caixas (70 por cento).

terça-feira, 8 de julho de 2025

PORQUE A GERAÇÃO Z NÃO ABRAÇA O CONSUMO DO VINHO?

Culpar a Geração Z pela diminuição das vendas de vinho tornou-se um reflexo quase automático para o setor. Os números falam por si: esta geração, atualmente com idades compreendidas entre os 21 e os 28 anos, representa apenas 3,6% do total de gastos em bebidas alcoólicas nos Estados Unidos. Mas o problema não é tanto “quanto” este grupo etário consome, mas “porque” o vinho - comparado com outras bebidas - tem dificuldade em fazer parte do seu mundo. Como Kate Dingwall salienta nas páginas da Wine Enthusiast, está se evidenciando uma verdade simples, muitas vezes ignorada: muitos jovens americanos não têm dinheiro para comprar vinho com regularidade. Num contexto de subida continua da inflação, salários estagnados e dívidas crescentes, o vinho - especialmente o vinho de gama média e alta - torna-se um bem ocasional e não quotidiano. Não é que a Geração Z não queira beber vinho: não tem dinheiro para compra-lo com regularidade. Reflitam: o custo médio de uma degustação básica em Napa Valley passou de 20 para 75 dólares em menos de uma década. Para muitos jovens de vinte e poucos anos, mesmo uma garrafa “barata” torna-se um luxo que pode ser adquirido de forma saltuária: basta pensar que uma garrafa de vinho “de entrada” no grande comércio varejista dos EUA custa em média 13-20 dólares, enquanto num restaurante o preço médio atinge facilmente 40-50 dólares. E esse não é somente um problemas dos EUA, maior mercado consumidor do mundo, mas também de vários outros paises mundo afora, sejam do velho que do novo mundo. No entanto, não é correto dizer que a Geração Z não gasta. Pelo contrário: de acordo com o Bank of America, muitos jovens gastam quase o dobro do que têm efetivamente em poupanças. Mas escolhem com muito cuidado. Viagens, moda, experiências personalizadas, produtos de auto-cuidado - estas são as áreas em que os gastos continuam fortes. O vinho, muitas vezes visto como elitista ou fora da sua “linguagem de valores”, fica fora do carrinho das compras

A questão fundamental não é apenas o preço, mas a distância cultural. Os jovens cresceram num mundo digital, fluido, inclusivo, atento às questões de identidade e autenticidade. O vinho, com as suas regras não ditas, as suas liturgias de conhecedor e uma estética ainda ancorada em paradigmas tradicionais, é um universo muito distante.

Outro nó crucial é o fato de a Geração Z ser a geração mais diversificada da história. Apenas 50% se identificam como brancos, em comparação com 71% dos Baby Boomers. Além disso, as mulheres são atualmente a maioria dos consumidores com menos de 25 anos e as estatísticas mostram que, em média, as mulheres consomem menos álcool do que os homens. Se o consumo global diminui, não é necessariamente porque ha menos interesse, mas porque a composição do público está diferente. E aqui também, o vinho não fala frequentemente a linguagem destas novas identidades e as campanhas publicitárias raramente representam esta diversidade. Os gostos de novos publicos continuam a ser menosprezados na oferta dominante: uma oportunidade perdida.

Uma das armadilhas mais insidiosas em que o setor do vinho corre o risco de cair é a da espera. “Quando forem mais velhos, começarão a beber vinho”, é o mantra tranquilizador. E, provavelmente, será esse o caso, em parte. Mas, entretanto? Entretanto, outros setores - como os "spirits" (aperitivos e cocktails) e as bebidas sem alcool - preenchem os espaços vazios. Não pode-se ficar estáticos: é a hora de mudar. Mudar a linguagem, os formatos, os canais de comunicação, as ocasiões de consumo. Tornar o vinho mais acessível, mais inclusivo, menos intimidante.

Se a Geração Z está mostrando que quer beber de forma diferente, isso não é um sinal de alarme: é uma oportunidade. O vinho pode reinventar-se como um produto experiencial, convivial, sustentável e descomplicado. Mas para fazer isso, tem de sair da sua zona de conforto. Como afirmou a produtora californiana Courtney M. Benham: "A geração Z não está desinteressada do vinho, está desconectada. Cabe-nos a nós construir uma ponte".

O QUE VCS ACHAM? Deixem comentários.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

NOVO ESTUDO SOBRE OS EFEITOS BENEFICOS DOS FLAVONOIDES

Se precisava de uma desculpa extra para saborear um copo de vinho tinto ou uma barra de chocolate, uma nova investigação que exalta as virtudes de uma dieta rica em flavonóides vem em seu socorro. Os flavonóides encontram-se numa grande variedade de alimentos e bebidas, incluindo chá, frutas de bagos, maçãs, laranjas e vinhos tintos.

Na revista Nature Food, os investigadores afirmam que o consumo de uma mistura diversificada de alimentos ricos em flavonóides poderia ajudar a prolongar a vida, atenuando o desenvolvimento de certas condições de saúde, incluindo doenças cardiovasculares e neurológicas. De acordo com os seus estudos, é a variedade da dieta que proporciona os maiores benefícios. Os investigadores acompanharam mais de 120 000 pessoas com idades compreendidas entre os 40 e os 70 anos durante mais de uma década, através da base de dados UK BioBank. Este estudo é significativo na medida em que os resultados indicam que o consumo de uma maior quantidade e de uma maior variedade de flavonóides tem o potencial de conduzir a uma maior redução das doenças do que o consumo de uma única fonte", afirmou o Professor Aedín Cassidy, corresponsável pelo estudo e da Escola de Ciências Biológicas da Queen's University Belfast.

Os autores do estudo escreveram: "A análise dos alimentos ricos em flavonóides mostrou que os indivíduos com a diversidade mais baixa consumiam sobretudo chá, enquanto os indivíduos com a diversidade mais elevada consumiam relativamente mais frutas de bagos, maçãs, uvas, vinho tinto e laranjas. Outros fatores relacionados com o estilo de vida podem também ser importantes. De acordo com o estudo, os indivíduos com a maior diversidade de consumo de flavonóides eram também mais ativos fisicamente e menos susceptíveis de serem fumadores.

O professor Cassidy disse ao portal Web Decanter que o estudo mostra que “cinco porções diferentes de flavonóides foram associadas aos maiores benefícios: sabemos que há muitas fontes, mas o vinho tinto é uma delas (com moderação, claro)”.

As principais fontes de flavonóides incluem o chá, frutas de bagos, frutas citricas, as uvas, as ameixas, a couve roxa e o cacau.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

AUMENTA A CONTRAFAÇÃO DO VINHO. A TOSCANA É A REGIÃO ITALIANA MAIS PREJUDICADA

 As regiões francesas da Borgonha, Bordeaux e Champagne, as espanholas Rioja e Ribera del Duero, a californiana Napa Valley nos Estados Unidos e até a Toscana. Todas elas, além do prestígio dos seus vinhos, compartilham também uma primazia nefasta que pode ser atribuída às suas denominações: são as zonas geográficas mais afetadas pelo fenómeno das garrafas falsificadas, segundo a Catawiki, o market place de objetos únicos e coleccionáveis. Que, por sua vez, se depara frequentemente com produtos falsificados que, interceptados por especialistas, não podem ser leiloados e, para a plataforma, um dos setores que registou o maior crescimento a este respeito foi o do vinho, que em 2024 registou um aumento de 28% no número de lotes bloqueados. "A evolução da contrafação no mundo do vinho é muito semelhante à do mercado dos vinhos finos. Hoje em dia, as falsificações encontram-se sobretudo nos vinhos com preços superiores a 200 euros, porque são mais fáceis de não serem percebidos e menos susceptíveis de serem suspeitados“, explica Mattia Garon, especialista em vinhos da Catawiki, acrescentando que ”esta onda não é constante“ e que ”as falsificações seguem as tendências do mercado: aumentam quando uma região ou um produtor se tornam subitamente populares". E, ao contrário de um relógio ou de uma bolsa, o vinho é um bem perecível e, uma vez aberta, a garrafa não deixa vestígios e não admite uma segunda inspeção, por isso é essencial descobrir a falsificação antes de abrir a garrafa.

As pistas são sempre as mesmas, mas três, segundo a Catawiki, foram os sinais mais recorrentes em 2024: a falsa rotulagem, a reutilização de garrafas e a adulteração de rolhas. O primeiro é um dos sinais mais visíveis, mas também um dos mais sofisticados. Os rótulos falsos podem parecer autênticos à primeira vista, mas muitas vezes têm pormenores errados ou gráficos imperfeitos. Os erros mais comuns, de acordo com a plataforma, incluem o posicionamento incorreto da informação sobre o teor alcoólico, fontes inconsistentes e logótipos desalinhados em relação ao layout original.

Uma técnica “clássica”, mas ainda muito difundida, é também a da reutilização das garrafas: os contrafatores enchem as caixas vazias autênticas com um vinho completamente diferente, depois as selam e reembalam. Por vezes, a anomalia, explicam os especialistas, tem a ver com a forma da própria garrafa: por exemplo, um molde de vidro dos anos 50 utilizado para simular uma garrafa dos anos 80. Outras vezes, é o peso, as marcas ou a cor do vidro que suscitam dúvidas: a reutilização de garrafas é particularmente comum nos vinhos vintage, onde a rastreabilidade é mais complexa. Mas mesmo quando a garrafa parece intacta e autêntica, o vinho no seu interior pode não o ser.

Assim, até a rolha pode contar outra história: alguns falsificadores retiram as rolhas originais, voltam a encher a garrafa e depois inserem uma nova rolha com dados falsos.

De acordo com os dados da Catawiki, os vinhos mais frequentemente falsificados em 2024 partilham três caraterísticas fundamentais: valor elevado, produção limitada e forte apetência para coleccionadores. Não é por acaso que os vinhos mais “falsificados” provêm de regiões do mundo (Borgonha, Bordéus, Champagne, Toscana, Rioja, Ribera del Duero e Napa Valley) cujas denominações respondem a estas caraterísticas e também a determinados preços: os vinhos com uma gama de preços média superior a 200 euros são, de fato, cada vez mais visados pela sua maior acessibilidade e margem de lucro.