No dia 24 de Fevereiro foi
realizada em São Paulo a nona edição da Adega Ideal, o mais relevante congresso
profissional do mercado de vinhos no Brasil onde foi traçada uma análise
detalhada do setor com destaque para a marca expressiva de US$ 500 milhões de
importações em 2024. No último ano, as importações de vinhos na América
Latina cresceram 8%, um número que amplia o interesse dos produtores
internacionais, especialmente diante da queda de consumo na Europa, dos
desafios na Ásia e da estabilidade do mercado nos Estados Unidos. Esse
crescimento incentiva o aumento das metas de exportação para a região, com
destaque para o Brasil, que registrou um avanço de 10% (subindo de US$
468.867.679,4, em 2023, para US$ 518.216.136,7, em 2024), a República
Dominicana, com 20% (indo de US$ 72.995.546,4, em 2023, para US$ 88.063.956,7,
em 2024), enquanto o México manteve um desempenho estável, com uma variação de
1,2% de um ano para outro.
Christian Burgos, CEO da Revista
Adega e diretor da ProWine São Paulo, afirmou que ““Quando se trata do Brasil,
é evidente que muitos produtores e associações estão direcionando grandes
investimentos para o país. Sempre me perguntei se essa estratégia fazia sentido
e se o mercado realmente responderia a tanto investimento. A resposta que ouvi
foi clara: ‘Não há outro lugar para colocar’. Ou seja, apesar dos desafios, o
Brasil se destaca como uma das melhores opções de investimento e atenção no
cenário atual. Ainda assim, o país não garante que o mercado responderá
positivamente a todos que optarem por investir nele”. O CEO da Revista Adega
ressaltou um ponto importante sobre o aumento do investimento das ONGs,
especialmente da União Europeia e o assédio dos produtores. Segundo ele, embora
isso aumente a pressão, pode ser positivo, principalmente quando se trata de ações
de marketing financiadas por esses recursos, que ajudam a divulgar o vinho sem
onerar diretamente o bolso do importador, beneficiando o mercado como um todo.
No entanto, a expectativa em relação aos números muitas vezes é irreal. Burgos
mencionou que, apesar de muitos acreditarem que o grande desafio para o vinho
seja o movimento antiálcool, esse fenômeno ainda não se materializou de forma
significativa no Brasil ou na Europa. Desde o pós-guerra, o consumo de vinho
tem caído nos países produtores, especialmente com a urbanização e a perda da
bebida como fonte de calorias no trabalho rural. Já o varejo nacional tem
buscado maior profissionalização e controle de estoques, enquanto os
produtores, especialmente os chilenos, enfrentam a necessidade de reorganizar
suas estratégias de plantio e comercialização. O mercado está em um momento de
transição, onde a consolidação e o planejamento estratégico serão fundamentais
para um crescimento sustentável.
Já Felipe Galtaroça, CEO da Ideal
Consulting, mediador do seminário, ressaltou que “Ao analisar o mercado
brasileiro, estimamos seu tamanho considerando volumes comercializados
(sell-in) e preço médio de varejo (retail). O vinho de mesa apresenta o menor
preço do mercado. Além disso, algumas marcas adotam estratégias tributárias
diferenciadas para ampliar sua distribuição nacional, especialmente nesse
segmento”. Com a redução do poder de compra da população, o vinho de mesa se
torna uma alternativa acessível ao consumidor, que muitas vezes não distingue
entre vinhos de uvas viníferas e americanas. Paralelamente, observa-se uma
reconfiguração do segmento, com uma valorização que tem reposicionado até mesmo
os vinhos de entrada como itens de luxo. Os dados também revelam oportunidades
no varejo. O vinho importado representa 60% do mercado em valor, com preço
médio de R$ 53,70. No varejo, essa média cai para R$ 36,00. Já os vinhos
nacionais têm forte presença no autosserviço, mas ainda precisam expandir sua
distribuição para canais especializados e on-trade, como bares e restaurantes.
O espumante brasileiro, por exemplo, cresceu de 25 para 37 milhões de litros
nos últimos anos, demonstrando um potencial de valorização.
Diante desse cenário, a indústria
nacional enfrenta o desafio de consolidar sua presença e ampliar sua
participação em segmentos de maior valor agregado. O fortalecimento das
estratégias comerciais e a adaptação às novas dinâmicas do varejo serão determinantes
para o crescimento sustentável do setor.
PRINCIPAIS INSIGHTS DA NONA
EDIÇÃO DO SEMINÁRIO ADEGA IDEAL
Ø Em 2024, o Brasil e o México foram os
principais importadores da América Latina, respondendo por 42% e 26% do
mercado, respectivamente. O crescimento total das importações na região foi de
7,7% em relação a 2023;
Ø O mercado de vinhos importados no Brasil
apresentou um crescimento significativo, com destaque para o Chile, que
registrou um aumento de 16% em volume e conquistou três pontos percentuais de
quota de mercado, atingindo 35%. Itália e Portugal tiveram um desempenho
positivo com um crescimento de 10% e 9% nas importações, respectivamente;
Ø Com base nos dados da sell-in e considerando
um aumento nos estoques do mercado brasileiro, resultante de um crescimento no
abastecimento – impulsionado principalmente pelas importações – que não
acompanhou o sell-out do varejo (principal canal de vendas da categoria),
estima-se que parte desse montante esteja estocado em importadoras e
distribuidoras;
Ø No ano passado, o mercado brasileiro de vinhos
e espumantes movimentou cerca de R$ 19 bilhões, equivalentes a 0,2% do PIB
nacional;
Ø Pelo quarto ano consecutivo, o mercado de
espumantes brasileiro apresenta crescimento. No último ano, o volume totalizou
37,2 milhões de litros, 2% acima de 2023 e quase 40% superior ao volume de
2019;
Ø As importações de vinhos e espumantes no
Brasil alcançaram um novo patamar histórico em 2024, com um total de 17,7
milhões de caixas de nove litros. Esse volume representa um aumento em relação
ao recorde anterior, registrado em 2021, quando foram importados 17,6 milhões
de caixas.
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