Antes de começar a escrever um pouco sobre as castas "mutantes" de Portugal, e quando escrevo "mutantes" não me refiro ao fato que as uvas durante a noite se transformam em pequenos seres alienígenas, mas sim a questão de cada casta mudar de nome dependendo a região de Portugal onde é plantada, devo admitir que a Lusitânia (nome utilizado para indicar o Portugal na antiguidade) foi um dos últimos países que estudei durante minha trajetória enológica, um pouco pelo fato de nunca ter tido muita proximidade pessoal com este país, e também pelo nó que dava na minha cabeça todas as vezes que bebia um vinho português, quando lia o contra rótulo, ao me deparar com, no mínimo, 6 uvas utilizadas para produzi-lo. Encarei isso como um desafio pessoal e me comprometi a aprofundar mais meus conhecimentos sobre a vitivinicultora portuguesa, e, a partir desta minha confusão inicial, decidi escrever este artigo pois acho que muita gente também fica um pouco perdida quanto as principais uvas de Portugal e seus diferentes nomes.
Examinando os principais países produtores de vinhos europeus Portugal é um dos menores seja em termos de superfície plantada que de produção, respectivamente 200.000 ha. e 6 milhões de hl/ano (mais ou menos 1/5 da produção da vizinha Espanha) e historicamente o pulo de gato da enologia portuguesa se deu com os vinhos fortificados do Porto e Madeira que, pelo fato de terem um alto teor de açúcar e de álcool resistiam muito bem as travessias marítimas para chegar ao principal mercado de exportação de Portugal, a Inglaterra. A produção de vinhos portugueses (como todos os outros países da Europa) teve grandes problemas durante a filoxera mas enquanto o resto da Europa conseguiu se reerguer, Portugal sofreu muito o isolamento político que viveu até meado de 1970 e que não permitiu que fossem implementadas politicas de melhoria nos vinhedos para aumentar a qualidade dos produtos e ao mesmo tempo investimentos institucionais para que os vinhos tintos e brancos fossem conhecidos fora de Portugal. Foi somente após a entrada do Portugal na Comunidade Europeia (1986) que o setor vinícola do país começou a se reestruturar e os produtores, visando os mercados externos, foram obrigados a implementar melhorias substancias seja nos vinhedos que nas cantinas para a melhoria da qualidade dos produtos.
Hoje as principais regiões vinícolas de Portugal são Minho, Douro, Bairrada, Dão, Ribatejo, Alentejo, Península de Setúbal e Algarve, além, obviamente, da Ilha de Madeira.
Falando um pouco mais sobre as castas, Portugal é um país com um número impressionante de castas autóctones (mais de 100) de origem muito antiga (fenícios e cartaginenses) e somente na região do Douro, a pátria do vinho do Porto, podemos encontrar quase 80 destas uvas, mas com pouca presença de uvas internacionais que não se adaptaram muito bem as condições climáticas e de terreno. Dentre as castas brancas mais utilizadas podemos mencionar a Alvarinho, Arinto, Bual, Encruzado, Fernão Pires, Gouveio, Loureiro, já para as tintas A Alicante Bouschet, Trincadeira, Aragonez, Castelão, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinta Cão, Touriga Nacional e Touriga Francesa.
Mas para voltar ao assunto da abertura sobre a "mutação" das castas portuguesas, abaixo anexo duas planilhas que evidenciam como o nome das uvas, em Portugal, muda em função da área onde é plantada. As vezes encontramos nomes bem esquisitos, mas espero que as tabelas abaixo ajudem os leitores a se orientar um pouco mais no complexo mundo das uvas "mutantes" portuguesas:
CASTAS BRANCAS | |
Nome | Sinônimos |
Alicante branco | Cachudo, Branco Conceição, Pérola |
Alvar | Alvar branco |
Alvarinho | Galego, Galeguinho |
Arinto | Padernã, Pé de Perdiz branco, Chapeludo, Cerceal,Azal espanhol, Azal, Galego, Branco espanhol |
Arinto do Interior | Arinto do Douro, Arinto de Trás-os-Montes |
Azal | Azal, Gadelhudo, Carvalhal, Pinheira |
Babosa | Malvasia Babosa |
Batoca | Alvaroça, Alvaraça, Sedouro |
Bical | Borrado de Moscas, Arinto, Fernão Pires, do Galego, Pedro |
Boal espinho | Batalhinha |
Branco João | Branco Sr. João |
Branda | D. Branca, Dona Branca |
Carrasquenho | Boal Carrasquenho |
Carrega branco | Malvasia Polta, Barranquesa |
Cerceal branco | Cercial |
Diagalves | Formosa, Carnal |
Dorinto | Arinto branco |
Esganoso | Esganoso de lima, Esganinho, Esgana Cão Furnicoso |
Estreito Macio | Estreito ou Rabigato |
Fernão Pires | Maria Gomes |
Folgasão | Terrantes |
Gigante | Branco Gigante |
Gouveio | Verdelho |
Lameiro | Branco lameiro. Lameirinho, Luzidio |
Lilás | Alvarinho lilás |
Malvasia Fina | Boal, Boal branco,Arinto-do-Dão, Assario branco, Arinto, Galego, Boal Cachudo |
Malvasia Rei | Seminário, Assario, Listrão, Pérola, Moscatel Carré, Grés, Olho de Lebre |
Malvasia Romana | Malvasia Cândida Romana, Malvasia Cândida branca |
Malvia | Malvasia de Setubal |
Malvoeira | Malvasia de Oeiras |
Manteúdo | Manteúdo B., Vale Grosso, Manteúdo Branco |
Moscatel Galego branco | Moscatel, Moscatel de Bago Miudo |
Moscatel Graúdo | Moscatel de Setubal |
Moscatel Nunes | Moscatel Branco |
Rabigato Franco | Rabigato Francês |
Rabo de Ovelha | Medock, Rabigato, Rabo de Gato, Rabisgato, Rabo de Careneiro |
Roupeiro Bramco | Roupeiro |
Santoal | Boal deSantarém |
Semillon | Boal |
Sercial | Esgana Cão, Esganoso |
Síria | Roupeiro, Crato Branco, Malvasia, Posto Branco, Côdega, Alvadurão do Dão |
Tália | Braquinha, Douradinha, Pêra de Bode, Ugni Blanc, Esgana Rapazes, Espadeiro Branco, Malvasia Fina, Trebiano, Afrocheiro Branco |
Tamarez | Arinto Gordo, Boal Prior, Trincadeira de Douro |
Trajadura | Trincadeira, Mourisco |
Trincadeira das Pratas | Tamares |
Uva Cão | Cachorrinho |
Valente | Branco Valente |
Vencedor | Boal Vencedor |
Vedelho | Verdelho Branco, Verdelho dos Açores |
Vital | Boal Bonifácio, Malvasia Corada |
CASTAS TINTAS | |
Nome | Sinônimos |
Alcoa | Tinta da Alcobaça |
Afrocheiro | Afrocheiro Preto |
Alicante Bouschet | Alicante Tinto, Tinta Fina, Tinta de Escrever, Uva Rei, Boal de Alicante, Boa! |
Alvarelhão | Brancelho, Brancelhao, Pirraúvo |
Amaral | Azal Tinto |
Amostrinha | Preto Martinho |
Aragonez | Tinta Roriz, Tinta de Santiago |
Baga | Tinta da Bairrada, Poerinho, Baga de Louro |
Barca | Tinta da Barca |
Barreto | Barreto de Semente |
Bastardo | Bastardinho |
Bastardo Tinto | Bastardo Espanhol |
Bonvedro | Monvedro Tinto, Monvedro de Sines |
Borraçal | Bogalhal, Carnho Grosso, Olha de Sapo, Esfarrapa, Murraçal |
Bragão | Tinta Bragão |
Camarate | Castelão, Castelão Nacional, Moreto, Moreto de Soure, Negro Mouro, Moreto |
Carrega Burros | Esgana Rapousas, Malbasias |
Castelão | Periquita, João de Castelão, Castelão Francês, |
Cidadelhe | Tinta de Cidadelhe |
Cornifesto | Cornifesto Tinto |
Engomada | Tinta Engomada |
Espadeiro | Espadeiro Tinto, Padeiro, Cinza, Espadal |
Fepiro | Alentejana |
Gorda | Tinta Gorda |
Graciosa | Tinta da Graciosa |
Grand Noir | Sousão, Sumo Tinto |
Grenache | Abundante |
Grossa | Tita Grossa |
Malandra | Tinta Malandra |
Malvasia Preta | Moreto |
Marufo | Mourisco Tinto, Moroco, Uva do rei, Olho de Rei |
Merla | Tinta Merla |
Moscargo | Portalegre |
Moscatel Galego Tinto | Moscatel Tinto |
Padeiro | Padeiro de Basto |
Pical | Pical Polho, Pic Pul |
Pilongo | Turigo |
Português Azul | Branco Escola, Branco de Asa, Azal de São Tirso |
Rabo de Anho | Rabo de Ovelha |
Ramisco tinto | Ramisco |
Ricoca | Tinta Ricoca |
Rodo | Tinta Rodo |
Roseira | Tinta Roseira |
Rufete | Tinta Pinheira, Penamacor |
Santareno | Santarém |
Sousão | Sousão Forte, Sousão de Comer, Sousão Vermelho |
Tinta Caiada | Monvedro |
Tinta Negra | Negra Mole |
Tinta Penajóia | Tinta Roriz de Penajóia |
Tinta Pomar | Tinta Mole |
Tinto Cão | Padeiro, Tinto Mata |
Touriga Fêmea | Touriga Brasileira |
Touriga Franca | Touriga Francesa |
Touriga Nacional | Preta Mortagua, Azal Espanhol |
Tricadeira | Tinta Amarela, Trincadeira Preta, Crato Preto, Folha de Abóbora, Mortagua. Espadeiro, Toneiro, Negrada, Castelão |
Valdosa | Tinta Valdosa |
Verejoa | Tinta Verejoa |
Verdelho Tto | Verdelho, Verdelho Feijão, Feijão, Mindeço |
Vinhao | Tinto, Tinto Nacional, Negrão, Pé de Perdiz, Espadeiro Preto, Tinta Antiga, Tinta de Parada, Sousão |
Nenhum comentário:
Postar um comentário